Truth
Ora viva, como está o leitor neste belo dia ardente de verão em pleno Maio? Aposto que não tão mal como o planeta. #Activismo. E esta semana, terá sido marcada pelo quê? Pelas tensões bélicas entre a Rússia e a Ucrânia?
Pelas secas que estão a destruir hectares inteiros de colheitas? Ou até pelo Twitter do Bruno de Carvalho? Não senhor, esta semana ficará eternamente gravada na história como a semana em que o Donald Trump lançou a sua própria rede social. Para dizer a verdade, não foi propriamente esta semana, foi mais ou menos há dois meses, mas para o bem narrativo desta crónica, e porque só soube desta fascinante notícia esta semana, dá-me mais jeito dizer assim. E eu confio no leitor para fechar os olhos a esta pequena incongruência jornalística.
Ora, esta rede, chama-se obviamente “Truth”, que em português significa verdade. Verdade esta que está para o Donald Trump como a honestidade fiscal está para o Sócrates. É pela falta dela que ambos são conhecidos. Se estiver confuso com o tipo de registo da plataforma, nada tema, eu posso-lhe assegurar que é essencialmente um Twitter para pessoas com patilhas.
Até o próprio logótipo parece ser o resultado biológico de uma noite de amor selvagem entre o logótipo do Facebook e o do Twitter. E desta one night stand nasce este logótipo muito pouco original que só viria a dar desgostos aos pais.
Arrisco afirmar que esta notícia pode já garantir um lugar no pódio da ironia de 2022 como um dos eventos mais irónicos do ano. Uma plataforma que defende, acima de todos os valores, a liberdade de expressão, mas que só foi criada porque o dono foi expulso das outras redes todas por querer, adivinhem só, condicionar essa mesma liberdade de expressão ao incitar à violência e espalhar mentiras relativas às eleições democráticas. Isto foi quase tão cansativo como ler as políticas de privacidade da rede social.
Imaginem o que seria um Twitter onde só estão adeptos do Trump. Em vez da Comunidade Cultura e Arte teríamos a Cultura Posta de Parte. Em vez de desafios como “360 dias seguidos a fazer Photoshop da cara do António Costa num filme diferente”, seria “360 dias seguidos a chamar macaco a negros aleatórios na rua”. Ou em vez do clássico “mete fav e digo o que acho de ti”, teríamos o “mete fav e digo o que há de mais facho em ti”.
E com isto surgem-me ainda algumas questões. Já que o Trump só criou isto porque foi expulso das outras redes sociais, quanto tempo demorará até a primeira pessoa ser expulsa desta? E qual será a razão?
Vamos a apostas? Vamos a apostas!
A primeira pessoa a ser expulsa da rede social “Truth” criada por Donald Trump, será por:
Opção A) – partilhar uma foto do Joe Biden em tronco nu em cima de um cavalo branco.
Opção B) – Dizer que os mexicanos são indivíduos exatamente iguais a todos os outros.
Opção C) – Dizer que foi o próprio homem a fazer o jantar mesmo sabendo que a sua mulher estava perfeitamente saudável e capaz de fazer aquela cabidela gostosa.
A resposta certa é … a Opção D) – ser uma pessoa razoável. É tudo o que é preciso para alguém ser expulso da rede social do Trump. Tinha rasteira esta.
O importante a reter aqui é que, para o bem ou para o mal, tem de haver algum nível de policiamento para pessoas com este nível de influência estratosférico. Caso contrário, nada me impede de começar todos os dias a dizer das mais bárbaras calamidades alguma vez ditas por um ser bípede, ou, ainda pior, inscrever-me na rede social dele.
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