Medo

O Medo Não Nos Pode Calar

Isabel conhece bem o marido. Sabe pelo som dos passos se a chegada será calma, ou se, pelo contrário, será regada pelo odor do vinho velho ou aguardente vínica, incrustado na roupa, na pele, na transpiração. Não se lembra muito bem da última vez em que ele chegou a casa sem ele, e o hábito naturalizou toda a rotina que partilham no quotidiano, quer a mesma trate o (des)funcionamento da casa, quer trate os excrementos da alma que ele deixa escapar em cada palavra que profere, usualmente imprópria para a situação, excessiva, mal cheirosa, infectada pelo álcool.