Não conheço o exacto momento em que a massificação se deu no mundo…
Não conheço o exacto momento em que a massificação se deu no mundo. Certamente não conseguiremos encontrar um ponto chave (confesso, assumo-me persistente na busca, incessante e impossível de respostas inexistentes), a partir do qual o ser humano começou a perder a individualidade e a envolver-se no colectivo de uma forma ampla e determinada.
Nada disto é ao acaso, e as teorias da conspiração levantam hipóteses que nos colocam na mira permanente das tecnologias, as ( supostas) grandes vencedoras do mundo.
Sou acérrima defensora da potencialidade da abertura ao conhecimento e à evolução.
Sou de uma geração que atravessou ao meio o caminho apressado da internet, lembro-me perfeitamente do antes, e estou totalmente adaptada ao depois.
Neste momento presente, já não concebo a minha vida sem a rapidez de uma tecla que me coloca onde eu quero, quando eu quero, a conversar com quem escolho e a ler os escritos que os grandes debitam, quase no instante em que acabam de os nascer.
Convenhamos, o mundo mudou. Permite uma universidade que nos transporta para uma evolução mais plena, mais intensa, mais completa, mas a questão reside no limite, a fronteira que na generalidade todos temos dificuldade em colocar na medida da necessidade. Por muitas coisas, e mormente por questões educacionais.
Ensinam-nos tudo desde que nascemos, menos a zangarmo-nos e a impor a nossa vontade, os motores internos que nos elevam à capacidade da escolha e da decisão, e que se tornam determinantes na hora de escolher se queremos ou não queremos ser colhidos, paradoxalmente, por toda esta enormidade, desproporcional ao nosso entendimento. Outro busílis da questão. Considerar que existem territórios que não dominamos, é um dos primeiros arranques para que possamos tentar contornar o que nos condiciona.
Hoje somos ensinados a estar atentos ao rigor do minuto. Somos impelidos a consumir informação de forma despropositada, sem tempo sequer de a sorver. Somos instigados a aprender tudo, independentemente do interesse que nos possa despertar, e somos apelidados de desinteressados se não acedermos ao consumo efectivo e excessivo do que vende, do que está na moda, do que as doutrinas definem como certo.
Quem se cansa, quem prefere limitar este acesso permanente ao mundo, de acordo com as suas próprias escolhas, necessita de exercer uma pressão extrema, como se estivesse a vedar a fonte do conhecimento. Mas na realidade, não é disso que se trata.
O tempo, este bem precioso que nos escorre das mãos como areia fina pode e deve ser gerido por cada qual. E quem apelida de comodista quem escolhe utilizá-lo em outras actividades, que não sejam a permanente actualização do estado da nação, deveria lembrar-se que no excesso, há sempre o sobejo.
E que no sobejo não medram outras grandiosidades.
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Carla Raposo Ferreira, é Psicóloga e escreve às Segundas-feiras no Rio Maior Jornal.