Pouco tempo depois da notícia, Tiagovski publica um vídeo onde agradece o apoio dos seus seguidores, e, no mesmo vídeo, mostra as novas pizzas congeladas da Prozis, os novos pãezinhos com queijo da Prozis e as novas proteínas da Prozis, tudo isto promovido pelo maior produto da Prozis, o Tiagovski.
Bons olhos o vejam leitor, já não nos encontrávamos há um tempinho. Sendo que a culpa é da minha pessoa, o leitor é só uma vítima da minha falha de periodicidade.
Bom, agora que usei a palavra “periodicidade” e já afirmei a minha superioridade intelectual sobre quem lê, posso seguir para o tema que nos trouxe aqui.
Ora, o que nos cutuca hoje é a relação entre a morte e a publicidade/influencers. O que só por si já é estranho, porque à partida não deveria haver nenhum tipo de relação entre estas duas coisas. A única ocasião em que eu imagino influencers e morte a cruzarem-se era no Instagram da Sofia Ribeiro há 6 anos atrás.
E como tudo, este diálogo surge em praça pública com um acontecimento insólito nas redes, quando o Tiagovski, youtuber português, anuncia que o seu pai havia falecido. Pouco tempo depois da notícia, Tiagovski publica um vídeo (carregue para ver o vídeo) onde agradece o apoio dos seus seguidores, e, no mesmo vídeo, mostra as novas pizzas congeladas da Prozis, os novos pãezinhos com queijo da Prozis e as novas proteínas da Prozis, tudo isto promovido pelo maior produto da Prozis, o Tiagovski.
Duro, não é? Recomendo o leitor a tirar dois segundinhos para absorver a notícia e recompor-se. Quando se sentir melhor, prossiga a leitura.
E isto em mim levantou várias questões, já no Tiago levantou vários dígitos na conta dele.
Uma das questões foi, OBVIAMENTE, ir espreitar o comentários para ver o que é que se andava a dizer. Decisão acertada. Quando abro os comentários vejo que já se tinha criado um ecossistema complexo de criaturas e opiniões. Este ecossistema já estava evoluído e encontrava-se na sua terceira grande fase. Sendo que a primeira fase foi essencialmente comentários dos seguidores mais fiéis do Tiago a dar força, independentemente do sketch digno dos Gato Fedorento que tinham acabado de ver.
Logo a seguir, veio a segunda evolução do ecossistema – o ódio! Começaram a chegar criaturas de todos os cantos do país para ofender o youtuber e dizer-lhe de maneiras bastante originais que ele não tinha vergonha na cara. Chegamos então à fase evolutiva que eu encontrei, a terceira. Aqui deparei-me com os fãs leais da primeira fase a ressurgirem para virem defender o seu deus do conteúdo digital.
O argumento utilizado por eles era que, se as pessoas fossem inteligentes, percebiam que o Tiagovski estava, na verdade, a ser uma pessoa digna, matura e que não fugia aos seus compromissos profissionais mesmo em situações de tragédia como esta.
E atenção, este argumento é totalmente válido. No entanto, se quando um familiar morre temos direito a X dias de ausência no trabalho mesmo executando um trabalho considerado mais tradicional, seria de esperar que no ramo do influencing, este colosso máximo do modernismo laboral, pudéssemos, NO MÍNIMO, não gravar pãezinhos de queijo no mesmo vídeo onde fazemos o luto do nosso pai acabado de falecer.
Até onde estamos disposto a ir pelo dinheiro? Porque é que os mesmos criadores de conteúdo que se esforçam tanto para legitimar a sua profissão aos olhos da sociedade caiem em buracos destes? Se o vosso trabalho é como qualquer outro isso serve para o bem e para o mal. Ninguém vos obriga a terem de publicar todos os dias a não ser vocês próprios.
Têm publicidades para fazer a marcas? Adiem! Se a marca não tiver flexibilidade à partida vocês têm e podem deixar de trabalhar com ela e agarrar-se a uma das outras centenas de abutres, desculpem, marcas, que vos batem à porta todos os dias.
Não é esta a liberdade horária e financeira que vocês tanto promovem? Ser o vosso próprio patrão não vos concede regalias mínimas como não terem de se expor publicamente quando morre um familiar?
É que assim fica a parecer que afinal isto das redes não é só trabalho como dizem. Fica a parecer que é obrigatório para o vosso sentido de relevância e que só o fazem para se massajarem a vós próprios.
Enfim, de qualquer forma, deixo-vos por aqui que tenho ali uns folhados mistos do Lidl deliciosos, feitos com a nova receita que não inclui açucares processados e é feita com queijo proveniente de vacas que não passam a vida inteira a ver o sol através de uma ranhura num teto. Disponíveis hoje nas lojas Lidl espalhadas por todo o país por APENAS 65 cêntimos. Lidl, mais para si ;
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