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Vinhos do Tejo

Os Vinhos do Tejo

OS VINHOS DO TEJO – Sumário Histórico

A fama do que actualmente constitui os “Vinhos do Tejo” é muito anterior à fundação da nacionalidade. As primeiras plantações conhecidas terão sido feitas pelos Tartessos, cerca de 2000 anos antes de Cristo na Idade do Bronze, sendo que igualmente D. Afonso Henriques os refere no foral de Santarém, em 1170.

Com a reconquista cristã, a cultura da vinha e do vinho foi bastante incentivada em todo o território português, pois durante toda a idade média, os reis tiveram a preocupação em proteger os vinhos da região do tejo, através da proibição da plantação de vinhas de outros proveniências.

A fama era tão grande, que chegam a merecer referência na literatura, como é o caso de Gil Vicente, ao mencionar os vinhos de Abrantes no seu auto “Pranto de Maria Parda”.

Por seu lado, o Marquês de Pombal, em 1756, promulgou o arranque das vinhas das margens do Tejo, proibindo a cultura da vinha nas terras aptas para outras culturas, seguindo ordem que obrigava a retirar os vinhedos de todos os terrenos aptos a outras culturas.

Do mesmo modo, ainda durante os anos 80 do século passado, a plantação de vinha era proibida nos solos de Classe A e B, os mais férteis e produtivos.

A proximidade a Lisboa e o acesso ao porto desta cidade, tornou a região a grande fornecedora de vinhos para a Capital e para as colónias ultramarinas, privilegiando-se assim, a plantação de vinha em terras mais férteis e a escolha de castas mais produtivas, para fazer face á enorme demanda de vinho, muitas vezes sem a devida preocupação de excelsa qualidade.

Com a integração na Comunidade Económica Europeia, é promulgada, em 1989, a legislação dos vinhos com Indicação de Proveniência Regulamentada (IPR), que na sua evolução dão origem aos VINHOS DO TEJO em 2009.

A Região dos Vinhos do Tejo

A região do Tejo caracteriza-se por três sub-regiões muito diferentes entre si. Designadas por CAMPO, BAIRRO e CHARNECA.

O Campo, corresponde à lezíria inundável pelo Tejo. É composta pelos solos de aluvião, muito profundos, muito férteis e com grande abundância de água. Estas vinhas são muito vigorosas e muito produtivas.

sub-regiões dos Vinhos do Tejo (Fonte: Comissão Vitivinícola Regional do Tejo)

O Bairro compreende a margem direita do Tejo, com um relevo mais acentuado, com solos calcários, argilo-calcários e argilosos. Nesta diversidade de solos, a vinha comporta-se de formas muito distintas. Mais vigorosa nos solos mais argilosos e menos vigorosa nos solos mais calcários.

A Charneca, estende-se da margem esquerda do Tejo (embora com pequenos retalhos na outra margem) até ao Alentejo. É composta por solos arenosas, pouco férteis e com alguns solos impermes. Aqui as vinhas são, em geral, pouco vigorosas e pouco produtivas e os seus vinhos muito concentrados e graduados.

O clima destas regiões, caracterizado como sul-mediterrâneo temperado, tanto mais, quanto mais perto do Tejo, com uma pluviosidade anual de cerca de 500-600 mm.


Os números da Região Vitivinícola do Tejo

A evolução da vinha na nossa região sempre acompanhou o sucesso comercial da mesma.

Evolução da área de vinha (fonte IVV)

Como podemos ver no gráfico a evolução da área de vinha desde a década de 80 do século passado até 2020, passou de cerca 30.000 hectares nos anos 80 para próximo de 13.000 hectares em 2020.

Esta diminuição acompanhou a tendência nacional, que passou de aproximadamente 275.000 hectares, na década de 80 para os actuais 192.000 hectares. Sendo aqui a única excepção ao Alentejo, que passou de cerca de 11.000 hectares para 25.000 hectares, muito à custa do enorme dinamismo comercial desta região.

A produção total de vinho na região dos Vinhos do Tejo tem-se mantido, desde 2015, com poucas oscilações, à volta dos 60.000.000 de litros anuais, mas a percentagem de vinho certificado tem aumentado muito nos últimos anos, passando de 11.000.000 litros em 2015, para cerca de 34.000.000 litros em 2021.

Este aumento de vinho certificado significa um enorme sucesso no caminho dos vinhos de qualidade e do valor acrescentado que este procedimento traz consigo.

Há no entanto, ainda que prosseguir este caminho, como podemos ver da análise na tabela seguinte.

Se repararmos as regiões melhor sucedidas, têm percentagens de certificação superiores a 95%, enquanto a a região dos Vinhos do Tejo, ainda está em 83%.

PERCENTAGEM DE CERTIFICAÇÃO NAS REGIÕES PORTUGUESAS EM 2020

Região Vitivinícola% de CertificaçãoProdução totalVolume Certificado
Minho99%89 369 362 litros88 331 994 litros
Alentejo99%128 947 271 litros127 201 868 litros
Algarve97%1 593 923 litros1 544 333 litros
Douro e Porto95%161 456 869 litros153 876 429 litros
P. Setúbal93%54 812 392 litros50 728 744 litros
Terras do Dão92%28 682 056 litros26 506 371 litros
Madeira91%3 761 204 litros3 436 046 litros
Lisboa87%133 916 239 litros116 060 111 litros
Tejo83%71 323 340 litros59 285 403 litros
Terras da Beira72%26 141 785 litros18 831 416 litros
Açores60%645 792 litros385 094 litros
Beira Atlântico55%18 062 975 litros9 990 972 litros
Terras de Cister47%6 537 847 litros3 047 965 litros
T. Montes37%10 602 887 litros3 971 414 litros
Volume de Vinho Produzido e Volume de Vinho certificado (fonte: IVV)

Convém no entanto referir que é igualmente necessário analisar as vendas para avaliar o peso relativo de cada região no mercado.

O gráfico seguinte apresenta o volume de vinho por região comercializado no mercado português em 2020.

Fonte: Comissão Vitivinícola da Região Tejo /NIELSEN

Como podemos ver, os “best sellers” são; as regiões da Alentejo, muito destacada, a Península de Setúbal e os Vinhos Verdes. No entanto, a região do Tejo está em quinto lugar, o que é excelente, tendo em conta a sua dimensão. De considerar que no gráfico não estão representados os vinhos do Porto, apenas os do Douro.

Para além do volume temos de analisar igualmente o valor comercial.

Mercados de Exportação dos Vinhos Portugueses

EXPORTAÇÕES PORTUGESAS POR REGIÃO

RegiãoVolumeValor TotalPreço por garrrafa
Alentejo38 329 000 litros           200 033 000,00 €             4,04 €
Península de Setúbal20 605 000 litros             70 800 000,00 €             3,03 €
Minho19 721 000 litros             83 020 000,00 €             3,29 €
Douro e Porto12 305 000 litros           101 641 000,00 €             5,93 €
Tejo8 944 000 litros             27 506 000,00 €             2,46 €
Terras do Dão5 491 000 litros             24 526 000,00 €             3,52 €
Lisboa4 588 000 litros             18 087 000,00 €             3,41 €
Beira Atlântico884 000 litros                2 042 000,00 €             3,37 €
Beira Interior848 000 litros                5 154 000,00 €             3,91 €
Trás-os Montes274 000 litros                1 731 000,00 €             6,11 €
Algarve225 000 litros                2 930 000,00 €             6,67 €
Terras de Cister54 000 litros                   452 000,00 €             4,29 €
Não certificado138 726 000 litros           277 708 000,00 €             1,34 €
Fonte: Comissão Vitivinícola da Região Tejo /NIELSEN

Verificamos que embora a região do Tejo seja a quinta em volume, é a sexta em valor total e a penúltima em valor por garrafa. Abaixo apenas temos os vinhos sem certificação.

Se olharmos agora para a análise da exportação, verificamos que os primeiros sete mercados absorvem cerca de 80% do volume comercializado, devendo realçar que a região dos Vinho do Tejo, exporta para 56 países.

Fonte: Comissão Vitivinícola da Região Tejo /NIELSEN

Mas serão estes os mercados tradicionais dos vinhos portugueses?

Podemos ver que os vinhos do Tejo têm uma posição muito interessante nas exportações para a Suécia e para a China, no contexto nacional. Sendo que os vinhos do Tejo apenas representam 5,4% do total de exportações nacionais, em determinados mercados o seu valor relativo é bem maior.

Outro ponto positivo é que as exportações do Tejo não seguem o trilho comum das exportações nacionais, mostrando vontade de diversificar mercados e dinâmicas comerciais.

MercadoTEJONACIONAL% RELATIVA
Brasil1 327 219 litros19 300 024 litros6,9%
Suécia1 176 199 litros5 918 427 litros19,9%
França813 196 litros8 713 963 litros9,3%
Polónia767 248 litros10 037 102 litros7,6%
China / Macau / Formosa / Hong Kong629 334 litros3 202 460 litros19,7%
Reino Unido581 787 litros13 487 378 litros4,3%
Estados Unidos456 397 litros19 006 011 litros2,4%
Alemanha181 972 litros11 296 700 litros1,6%
Bélgica133 653 litros2 773 956 litros4,8%
Holanda108 827 litros2 781 097 litros3,9%
Angola96 919 litros2 326 173 litros4,2%
Suiça75 390 litros7 198 501 litros1,0%
Canadá73 924 litros10 128 084 litros0,7%
Dinamarca69 328 litros1 120 349 litros6,2%
Finlandia47 882 litros2 523 837 litros1,9%
Rússia41 166 litros1 678 779 litros2,5%
TOTAL6 580 441 litros121 492 841 litros5,4%
Fonte: Comissão Vitivinícola da Região Tejo /NIELSEN

Em jeito de conclusão podemos dizer que a região dos Vinhos do Tejo, mostra bem a sua grande adaptabilidade às novas realidades, aumentando a sua percentagem de vinhos certificados e procurando novos mercados. Falta ainda agregar mais valor aos seus vinhos, porque qualidade não lhes falta.

Mário Caldeira Andrade

Mário Jorge Caldeira Andrade, É Mestre em Ciência e Tecnologia do Vinho pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto e Licenciado em Engenharia Alimentar pela Escola Superior Agrária de Santarém com formação contínua pela Faculté de Oenologie da Université Victor Segalen Bordeaux 2, em Bordéus.
É consultor de diversas empresas associadas ao setor Vitivinícola

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Mário Jorge Caldeira Andrade
É Mestre em Ciência e Tecnologia do Vinho pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto e Licenciado em Engenharia Alimentar pela Escola Superior Agrária de Santarém com formação contínua pela Faculté de Oenologie da Université Victor Segalen Bordeaux 2, em Bordéus. É consultor de diversas empresas associadas ao setor Vitivinícola.

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