Poema de João de Almeida Santos.
CAMINHAVA SÓ
No paredão
E sentei-me,
À tardinha,
A olhar
A solidão,
O oceano
E o sol
Lá ao fundo
A brilhar
Sobre a linha
Do horizonte,
Em tempo de
Baixa-mar.
O SOL CRIARA
Um caminho
De luz,
Mar fora,
A entrar
P’los olhos
Dentro
Nessa já
Tardia hora.
E CONVIDAVA-ME
A segui-lo
Com o olhar
Em gesto
De despedida.
Era hora
De sol-posto,
Era hora
De partida.
A LUZ INTENSA
Do sol,
Longo rasto
Luminoso,
Incendiava
O olhar
De tão forte
Ser a luz
A refractar-se
No mar.
FIXEI
Esse caminho
E ouvi
Da sua água
Um suave
Marulhar,
Murmúrio
Terno
Das ondas,
Melodia
Luminosa
Criada
Para embalar.
ERGUI DE NOVO
O olhar
Para o sol
Que s’esvaía,
Respirei
E voltei
A respirar
Uma intensa
Maresia.
RUA DE LUZ
Marinha
A levar-me
Ao horizonte
Por círculo
De fogo
Aceso
Em urgente
Despedida,
Ocaso
Que anuncia
Noites
Passadas
De sonho,
Estranhas
Formas
De vida.
ASSIM ME PARECE
Ter sido
A história breve
Que contigo
Eu vivi,
A mesma faixa
De luz,
O mesmo círculo
De fogo
Que o horizonte
Engoliu,
O serpenteio
De corpos
No luminoso
Caminho
Que a ti
Me conduziu…
ATÉ QUE O SOL
Se pôs
Pra regressar
De manhã,
Metáfora
Luminosa
Do nosso encontro
Fugaz
Já tão perdido
No tempo,
Esse tempo
Tão voraz.
E O SOL
Lá regressou,
Mas vinha
De outro lado,
Sem suave
Marulhar,
Sem ondas
Pra navegar
Nesse brilho
Ondulante
Que um dia
Me encantou
A lembrar-me
O teu mar,
Esse ondear
Cativante.