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Portugal

“Ó Portugal, hoje és nevoeiro…”

Os grandes opositores das mobilizações dos profissionais da educação dirão que estou a usar um discurso hiperbólico ao citar Pessoa, isto porque os professores são muito bem pagos, o seu dever é estar nas salas de aula, reclamam por algo desnecessário…

Enfim, pergunto-me diariamente em que país vivo, quando uma parte da sociedade defende que um professor ganha muito bem e que existem outras profissões que devem auferir mais, nem o regresso do rei D. Sebastião vem curar este mal. Sou aluno, sonho ser professor e cada vez mais considero de grande imbecilidade os discursos que não defendem a causa, por considerarem que o ensino em Portugal é de qualidade e que os problemas que existem são meramente estruturais, de fácil resolução.

Estou agastado com estas visões que em nada beneficiam esta luta e que vêm de pessoas que não conhecem o sistema, que não vivem a Educação, que não estão nos corredores escolares, que não têm aulas com professores que se dividem entre vários níveis de ensino e, muitas vezes, várias disciplinas. Dizem que é fácil ser professor. Perfeito, então substituam-nos! Fiquem com as suas turmas numerosas, com os programas exaustivos, a preencher grelhas com mais siglas que uma marca de detergentes, sem qualquer estatuto aos olhos da sociedade… Como é suposto um indivíduo permanecer quieto perante um sistema que não olha com seriedade esta classe profissional que é basilar numa sociedade?

Recentemente, no programa “O último apaga a luz”, dois indivíduos destacaram, indiretamente, que os professores procuram apenas protagonismo, lutando somente por melhores salários. Ó meus caros, e depois? Até parece que eles ganham bem e trabalham pouco!  Se o problema fosse só os salários, os professores não insistiam massivamente nesta luta. E as condições de trabalho? E o estado da educação? E um governo que se preocupa em destacar milhões de euros para a construção de um artefacto de grandes dimensões para dizer “Olá e adeus” ao Papa?  Simplesmente vergonhoso! É triste uma estação televisiva pública convidar “comentadores” que vêm falar de educação, quando, na verdade, não sabem do que se trata – não entendem a urgência!

A greve passou a fazer sentido, no meu entender, quando deixou de ser apenas à sexta-feira, como forma de fim de semana prolongado. Mais, as greves começaram a ser verdadeiros hinos à Liberdade, quando promovem a união entre todos, independentemente de sindicalizados ou não. (Embora o Governo boicote esta Liberdade com a imposição dos absurdos serviços mínimos que se tornam máximos!).

“Os médicos são mais precisos que os professores!” – fico exausto com esta afirmação! Mais uma vez, o estatuto de médico passa por cima do magister, aquele que dotou o médico de competências básicas, tais como a leitura e a escrita.

O que vale é que a ignorância não é uma doença transmissível e muitos ainda acreditam na possibilidade de fortalecer a Educação neste país!

«É a hora!»

António Coito
António Coito é estudante da Licenciatura em Português na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e estagiário na Fundação António Quadros. Além disso, desempenha várias funções, sendo Vice-Presidente da Direção da ATUAAÇÃO, Cidadão-deputado da Comissão de Educação e Ciência do projeto "Os 230" e Membro Suplente da Mesa do Plenário do NEFLUC. É também embaixador da Universidade de Coimbra e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Interessa-se por temas como o Ensino da Literatura, a Formação (inicial e contínua) de Professores e os Hábitos de Leitura na Sociedade Atual. Escreve quinzenalmente para o RM Jornal.