Poder ou Abuso de Poder?
O poder é algo que corrompe o homem desde o início dos tempos. Quando usado na humildade da sabedoria, não o considero um abuso, considero-o razão, ciência, competências que podem ser usadas em prol da humanidade e do avanço.
Caso contrário, soa-me na grande maioria das vezes a uma espécie de abuso, que se vai assumindo à medida que o tempo passa, sempre na mira do egocentrismo, e não do bem comum.
A história é feita de pessoas poderosas e de pessoas grandiosas. As primeiras são conhecidas pela detenção de uma espécie de totalitarismo, as segundas, são as que fazem o mundo ficar um lugar melhor, ou seja, são realidades antagónicas: uma trava, a outra, impulsiona.
Quando aspiramos o poder em vez da evolução, iniciamos uma série de hábitos que julgamos que nos podem elevar ainda mais, e começamos a utilizá-los sem moderação, como se fossem uns trejeitos indisciplinados, que no nosso mais íntimo Eu, não conseguimos controlar. Pensamos que são invisíveis, ou, certas vezes, podemos por decoro dar-lhe uma espécie de disfarce.
Gosto de olhar para esta fase. É aquela em que os supostos poderosos falam em público em nome de um nós colectivo, que morre num ápice quando se desce o palanque e se reencontram outra vez com os seus próprios objectivos. Nem toda a gente está atento o suficiente para perceber, mas são como ervas daninhas, existem muito por aí.
Depois temos ainda outra espécie de manifestação de poder, que vai ainda um pouco mais longe na assumpção da voracidade, que nos surge quando o poderoso se sente no direito de afrontar quem nele acredita, de uma forma insolente e imprudente.
Sabendo de forma consciente que a sua acção vai ser reconhecida como negativa, mas ainda assim resolve mantê-la, porque acha que pode. Estas são as que mais me incomodam, pois são as que revelam exactamente a génese de quem as pratica, e que neste patamar já se julga imune às vozes do povo, uma espécie de entidade acima do que é certo ou é errado.
Se olharem atentamente, conseguem detectar esta espécie rapidamente. São pessoas que, por exemplo pelo lugar que ocupam, conseguem decidir coisas controversas sem medo, sabendo que não são em prol do bem comum, mas sim em prol de um interesse próprio, que em nada contribui para a evolução de coisa alguma.
Temos na actualidade lideres políticos, como sempre, lideres religiosos, como sempre também, entre outros, e poderemos procurá-los perto ou longe. Usualmente usam a controvérsia para elevar a popularidade, o que em nada abona a comunidade.
A mesma que por vezes cega, e avança calada.
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Carla Raposo Ferreira, é Psicóloga e escreve às Segundas-feiras no Rio Maior Jornal.