Idolo

O ídolo

O Ídolo

Os ídolos são construções que nos permitem sublimar a existência. Servem de modelo para a fantasia, eventualmente para o impossível, e têm o condão supremo de nos elevar para o patamar do Olimpo, como se de alguma forma conseguíssemos sentir a possibilidade de tocarmos em algum céu.

Todos já tivemos os nossos, e sabemos que podem ir desde a mais simples pessoa ao super herói mais fantástico, deixando no intervalo inúmeras possibilidades, usualmente dentro dos nossos interesses, necessidades ou projecções.

Portugal tem tido um ídolo desportivo muito significativo. Pela capacidade, pela competência, pelo esforço, pelo caminho. Pelas origens, pelo que já conquistou, pelo que nos ajudou a conquistar no âmbito desportivo. Pelos gritos de alegria que já nos deu, pelos golos que já aplaudimos, pelos prémios que já ganhou, e que por inerência, todos ganhamos. Foi sempre com alegria que nos erguemos em vivas para o enaltecer, e que nos vergamos em vénias para lhe agradecer, e não me canso nunca de o olhar como o símbolo de uma nação inteira, no que toca ao futebol.

Não tenho particular conhecimento da sua vida. Enquanto pessoa, limito-me a conhecer a subida a pulso, que é pública, alguma vida familiar que se divulga diariamente, e pouco mais. Devido a isso, não me situo no limite de ser sua acérrima defensora, nem eventual arguente. Tudo porque não me sinto alocada o suficiente para me pronunciar no que quer que seja, quer o acusem de orgulhoso, quer lhe enobreçam o trajecto. Mas como cidadã Portuguesa, tenho-lhe uma enorme admiração e respeito, como tenho por muitos outros que nos têm levado além fronteiras. Depreendo que como eu estarão inúmeras pessoas, certamente muitos portugueses e cidadãos do mundo.

E é neste seguimento que me choca a atitude repugnante que encontro nascida nos olhos de muita gente, nestes últimos meses. Como se de repente existissem milhares de oponentes, que por não verem a sua vaidade alimentada, transformam o foco da glória no foco do ódio. É tão humano, e ao mesmo tempo tão detestável (ou não fôramos nós um fosso de detestáveis contrariedades). Caso não saibam, deixo-vos a indicação de na maioria das vezes é uma manifestação puramente egoísta, que nos deixa de frente com a nossa natureza mais primária e mais infantil: o outro é o melhor do mundo enquanto nos der os chocolates que gostamos, da forma que queremos. Depois disso, o outro não só passa a ser pouco, como passa a ser mau, agressor ou detestável. Tudo porque não conseguimos transformar em pessoas, os nossos heróis, ( como iríamos viver num mundo sem cultos ou divindades, sejam eles bons, sejam eles maus?).

Mais ou menos como o treinador fez, no último jogo de Portugal, no Mundial do Qatar. Cristiano Ronaldo foi pessoa, reclamou, e ficou no banco. Deixou de ser o Herói aos olhos de quem o treinou. E com muita pena minha, o episódio terminou.

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Carla Raposo Ferreira, é Psicóloga e escreve às Segundas-feiras no Rio Maior Jornal.

Carla Raposo Ferreira
Psicóloga, Terapeuta do luto. Exerce clínica privada nos distritos de Santarém e Leiria.