O corpo somos nós
Ainda não percebi ao certo se caminhamos para a aceitação do corpo como ele é, ou se caminhamos para uma espécie de pseudo aceitação global que pretende demonstrar evolução, quando na realidade o que se passa é totalmente diferente.
Mais ou menos como a visão sexista da sociedade, que no mercado global de comunicação e publicidade morreu, quando na verdade se encontra tão acesa como nunca, na educação, nos vencimentos, nas oportunidades de carreira, no poder. Mas voltando ao corpo. Há marcas de mercado que se encontram há alguns anos a tentar normalizar a fisionomia feminina.
Apostam em publicidade com mulheres reais, de peso real, sem demasiadas nuances de perfeição, no fundo, todos sabemos, uma forma de publicidade eficaz que promove a identificação, e por conseguinte, atinge um longo alcance. Não obstante, são eficazes na chamada de atenção ao problema, pelo que efectuam um caminho necessário e tardio.
Porém, não poderemos esquecer que toda a evolução que nos últimos anos se construiu, no seguimento da análise efectuada aos impactos da magreza extrema na saúde feminina, se encontra neste momento comprometida pela generalização das redes sociais, da fotografia e da edição de imagem, que continua a ser utilizada em grande escala para publicitar determinadas marcas, de uma forma tendenciosa e manipulada.
Esta conduta continua a interferir com a generalidade das mulheres, que por um lado parecem aceitar os brancos e os quilos com alguma naturalidade, mas por outro lado são confrontadas diariamente com padrões muitas vezes inalcançáveis, seriamente comprometedores da auto estima saudável, e no seguimento, gatilhos para mal estares de ordem diversa, e dificuldades de aceitação.
Daqui até obtermos uma ligação directa a algum mal estar psicológico vai um pequeno passo, e cabe também a pais e educadores a tentativa precoce de controlar este estigma danoso. Não possuímos regras definitivas nem reptos absolutamente eficazes, mas deveremos estar atentos e fomentar o que conseguirmos, no que toca a uma vida saudável, mas sempre em respeito pela própria individualidade. Por me parecer pertinente, deixo algumas estratégias de caráter mais prático e quotidiano;
- Não compare o seu filho ou educando com outras crianças ou jovens. Ele é único e é assim que se deve olhar, com respeito e aceitação. Fomentar a comparação, implica sempre um sentimento de inferioridade;
- Os hábitos de vida saudáveis são para cultivar, mas sempre sem rigores extremos que possam desorganizar o interior da criança ou do jovem. É importante controlar o consumo de doces, por exemplo, mas o mesmo não deve ser proibido na totalidade;
- Ensine o sei filho a olhar para ele próprio e a conhecer o melhor o seu corpo e o seu interior;
- Dê-lhe espaço para ele falar sobre as suas fragilidades, pois só assim ele conseguirá deitar para fora as suas inseguranças, para que depois as possa vencer;
- Mostre-lhe os seus pontos fracos. O que gosta em si e o que não gosta. Assim ele perceberá com quem mais gosta, que a perfeição é uma utopia inalcançável, e, pasmem-se, está tudo bem na mesma.
São pequenas ideias para colocar em prática desde já, que irão incentivar a evolução saudável e uma melhor relação com o corpo.
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Carla Raposo Ferreira, é Psicóloga e escreve às Segundas-feiras no Rio Maior Jornal.