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O Carvão Limpo

Carvão & Energia 14 O Carvão Limpo

14 – Tecnologias de Carvão Limpo

Sujidade

Na produção industrial, principalmente nos setores da eletricidade, dos cimentos e da siderurgia, as tecnologias associadas ao carvão desempenham um papel relevante.

O carvão é a 2ª fonte de abastecimento de energia primária a nível mundial, com o peso
de 26,5 % em 2023, só superado pelo petróleo com 31,6 %.

Apesar disso, é quase uma heresia, nos tempos que correm, usar a designação de “carvão limpo”.

Na realidade, a aposta no fim do carvão como recurso de energia primária tem levado a que se utilize imagem de um combustível altamente prejudicial para o ambiente.

É frequente serem utilizadas imagens de chaminés fumegantes de sociedades industrializadas. Muitas delas são, no entanto, imagens com muitos anos, de épocas que já não existem. Geralmente aparecem associadas a capitalistas exploradores, de cartola e a fumar charuto. Propaganda datada e rudimentar.

É verdade que o trabalho mineiro, principalmente nas minas subterrâneas, é um trabalho árduo e difícil. Quem conheceu o trabalho das minas de Rio Maior, do Espadanal, ou de S. Pedro da Cova, ou do Pejão sabe bem isso.

As funções de fogueiro, nos comboios ou nas caldeiras, são mostradas com trabalhadores de cara mascarrada, com os olhos em evidência.

Mas quando se fala de carvão limpo, não é nada disso que se quer referir. Trata-se sim de usar as melhores tecnologias existentes, comprovadas e largamente utilizadas em instalações modernas.

Poluição

Erradamente, nos tempos atuais, está-se a discutir a questão ambiental de uma forma demasiado restritiva, limitada à emissão dos gases de efeito de estufa, nomeadamente o Dióxido de Carbono, o CO2.

No entanto, relacionados com as emissões dos gases, existem também outros impactes
ambientais:

  • As partículas. Encontram-se em suspensão nos gases e resultam diretamente da queima do combustível. Mais ou menos abundantes, dão uma cor ao fumo que costuma estar associada à imagem de instalação poluente. No caso atrás referido, dos antigos comboios a carvão, o fumo preto era uma imagem característica, devido à situação anormal de uma queima demasiado rica em combustível e, portanto, com bastantes inqueimados.
  • O dióxido de enxofre (SO2), que resulta da existência de enxofre no combustível, que se vai combinar com o oxigénio do ar. Misturado com a água da atmosfera dá origem ao ácido sulfúrico, que quando precipitado sob a forma de chuvas ácidas pode ser responsável pela destruição de zonas agrícolas e florestais. Para quem quiser relembrar as equações químicas, o processo é o seguinte:
  • Os óxidos de azoto (NOx), associados a problemas de saúde humana, a nível de doenças respiratórias.

Ambiente

Mas nem só a poluição atmosférica conta para o efeito que as instalações industriais têm no meio envolvente.
Além do Ar, tem de se considerar também:

  • A Água.
    O consumo de água para o processo industrial ou para a refrigeração dos equipamentos tem de ser licenciado e é exigido que o retorno de água contaminada, por exemplo de efluentes líquidos tenha um tratamento em instalação adequada: ETAR, Estação de Tratamento de Águas Residuais.
    Como sabemos, é o que acontece também nos esgotos das cidades.
  • Os Resíduos
    Mais frequentemente é o que se chama de lixo. Podem ser tratados, ir para aterro ou ser reaproveitados, em processos que se tentam incentivar designados como Economia Circular.
    É o princípio dos 3 R: Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
  • O Ruído
    Ninguém gosta de morar em sítios com muito barulho. Perturba o descanso e incomoda em permanência. Às vezes é o trânsito da estrada ou o vizinho de cima a festejar os golos da sua equipa preferida. A solução é o isolamento: o afastar as instalações ruidosas de zonas habitacionais ou rodeá-las de dispositivos como as barreiras sonoras. Ninguém diga que já se habituou.

Soluções

É por tudo isto que uma instalação industrial deve possuir a sua Declaração de Impacte Ambiental onde mostra a execução das medidas adequadas para cumprir o que ficou determinado nos documentos do seu licenciamento.

Face ao exposto, sendo reconhecido o impacto da utilização das energias fósseis, no caso do carvão é de extrema importância fazer a gestão dos produtos resultantes da sua queima.

Vale a pena visitar as tecnologias disponíveis e as soluções adotadas que permitem a classificação de uso de “carvão limpo”.

Este é o tema para as próximas crónicas da série “O Carvão Limpo”, que serão publicadas mensalmente.

/Rodape

Fernando Vieira
Fernando Caldas Vieira, nascido em 1957, casado, de Tomar. Engenheiro eletrotécnico, licenciado e mestre pelo IST. Mestre em política, economia e planeamento da energia, pelo ISEG. Trabalhou no setor de produção de eletricidade, nomeadamente em centrais termoelétricas. Presidiu à ECOBA, Associação Europeia dos Produtos da Combustão do Carvão e ao grupo de trabalho de resíduos da Eureletric. Dedica-se à prestação de serviços de consultoria a empresas no campo da eletricidade, da energia e do ambiente.

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