Nada vem sem trabalho, costuma dizer-se. No que às artes diz respeito, aplica-se na íntegra. A inspiração existe? Sim, “…encontra-se sobre a mesa de trabalho”, como dizia Pablo Picasso.
Obviamente que não existe uma única forma para desenvolver o trabalho criativo, cada um tem o seu próprio método. O que para uns é muito bom, logo o processo a seguir, para outros é impossível de aplicar, por não se coadunar com a sua maneira de ser.
Há bons artistas que gostam de criar ao ar livre, gostam mesmo de exibir a sua forma de executar, pintando, esculpindo ou simplesmente desenhando em público, não se incomodando absolutamente nada, gostando mesmo de ter público assistindo. Outros, pelo contrário, qual bicho solitário, fecham-se no seu espaço, fazendo ali as suas experiências, criando ali a sua obra. Como se pode imaginar, enquanto os primeiros, por princípio, procuram representar o que está à vista, os segundos fazem-no preferencialmente a partir do seu interior, sai-lhes da cabeça, daí dizer-se “criar dói”. Sim, sofre-se para que alguns trabalhos nasçam, existam.
Há trabalhos admiráveis tanto num como noutro caso, chegamos à mesma conclusão. Se no primeiro caso o espectador é mais ou menos impressionado pela beleza da obra, comparando a semelhança desta com o modelo, pois trata-se de arte representativa, no segundo sentir-se-á mais ou menos emocionado, angustiado, tocado pelo imaginativo que a obra poderá colocar-lhe. Neste caso é muito mais importante a emoção, a sugestão, a exaltação da cor do que a forma muitas vezes inexistente.
Seja de que maneira for, o importante é que o resultado seja agradável e que nos impressione, enquanto espectadores.
Tenho para mim que uma obra de arte é criada pelo artista que a concebeu e pelo espectador que a conclui. É pois, muito mais exigente para o espectador, pois este tem que ser tocado, perturbado pela obra que contempla, por forma a que o seu olhar a conclua. Assim, a mesma obra terá várias leituras. Dado que o trabalho em causa não é representativo, o que para uns emociona e mostra uma coisa, para outros tem uma leitura completamente diferente e para outros ainda, não é nada pois só o óbvio lhes é acessível.
Tudo é concebido no seu atelier. O artista vai de experiência em experiência, sempre emotivamente, criando a ambiência, o jogo de cores, texturas, luzes e sombras que a sua mente vai produzindo.