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Monogamia Intermitente

Monogamia Intermitente

Estamos a amar como queremos ou como querem?

Mais uma semana, mais uma voltinha. Como está o meu leitor favorito? Está feliz? Nem por isso, não é? Ninguém está feliz. Simplesmente, não estamos tristes. O que já é uma felicidade. Também não podemos ser gananciosos com o nosso amigo lá de cima. Ainda por cima agora que ele está ocupado com umas confusões lá para o leste. E nós cá ficamos, com a nossa ausência de tristeza mascarada de felicidade. Para mim, os únicos que são realmente felizes são os que andam descalços. Ou de sandálias. A coragem que é preciso para erguer com orgulho uma sandália em pleno Dezembro. Ou em qualquer altura do ano. 

Estas introduções estão a ficar cada vez mais estranhas. Gostava de conseguir prometer que não se vão tornar um hábito, mas conhecendo-me como conheço, estaria a mentir. Vamos então para o que me trás aqui hoje.

A minha intenção esta semana é desafiar o leitor a considerar uma nova forma de amar. Profundo não é? Desengane-se, vai ser tudo menos profundo. Quero apresentar o leitor à monogamia intermitente. E o que é isto da monogamia intermitente? À semelhança do jejum intermitente, traduz-se em períodos de tempo de uma certa atividade, alternados com períodos de tempo de ausência dessa mesma atividade. No caso do jejum, é comer, neste caso, é amar. 

Acredito piamente que a monogamia intermitente é o futuro das relações interpessoais entre seres humanos. Pensemos, a ideia de amor que temos hoje é tão real como os peitos da Suzana Garcia. Na medida em que não nasceu connosco, não é biológico e foi-nos colocada por terceiros. 

A nossa natureza é poligâmica, tal como a maioria dos animais que pisam esta terra connosco. Excetuando alguns casos, como os pinguins e os flamingos, e, até ver, nenhum de nós tem penas cor-de-rosa ou escorrega com a barriga no gelo. 

É importante ter esta consciência para percebermos que a história recente do ser humano tem ido contra os seus impulsos naturais. E com isto, não digo que devêssemos andar por aí a engravidar todas as fêmeas que olham para nós nos olhos. Com isto, devemos é considerar, que, talvez, a nossa ideia de como é que o amor é suposto ser vivido, foi construída e não sentida. 

Imaginemos um mundo onde a monogamia intermitente está tão normalizada na nossa cultura como a saloiada está na TVI. Neste mundo, as crianças já não crescem a ser ensinadas que devem encontrar uma pessoa para partilhar a vida toda, ao invés, são ensinadas a amar quem quiserem, durante o tempo que quiserem, as vezes que quiserem. E com esta democratização do amor, democratizamos também a liberdade de escolha e a liberdade emocional. Já ninguém sentiria peso na consciência por deixar de sentir amor por alguém, saberiam que é um processo normal. Seria tão normal apaixonar como desapaixonar. 

E isto resultaria concretamente em quê? Resultaria numa pessoa ter várias relações durante a sua vida em vez de apenas uma, durante o tempo que achassem correto, tão ou mais intensas, com uma taxa de infidelidade menor, mais honestas, e, acima de tudo, mais felizes.
Para não falar da experiência que cada um de nós teria em relações. Seríamos pessoas muito mais maduras emocionalmente, com mais bagagem, mais resistência, mais tolerância. Eu comparo muito as relações à condução. A primeira vez que o fazemos nunca somos bons, cometemos erros de principiante, não nos sentimos seguros e não transmitimos segurança. Mas à medida que o fazemos com mais frequência, tornamo-nos mais calmos, mais experientes, deixamos de cometer erros que no passado cometemos, ganhamos ferramentas melhores para lidar com conflitos e com as emoções resultantes desses conflitos.

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Bruno Rolo
O meu nome é Bruno Rolo, sou licenciado em Marketing Turístico e a minha principal ocupação é trabalhar como responsável de Marketing e Comunicação. Gosto de comédia e tento sempre incorporá-la na minha escrita, ainda que na maioria das vezes fique pelo tentar.