A Minha Escola Primária
Na crónica desta semana, resolvi trazer algumas memórias, por mim vividas, sobre o Ensino Primário nos anos sessenta do século passado. Felizmente, as condições de conforto, de ensino e das instalações escolares, tiveram melhorias inimagináveis.
No ano de 1962, tinha eu 7 anos, era chegado o grande momento de ir para a escola primária. Fui para a escola dos rapazes, na Rua Professor Manuel José Ferreira, na então Vila de Rio Maior. A escola tinha três salas. Existia ainda outra escola para as meninas, era no Alto Pina, uma escola idêntica à nossa. Nessa altura estava em fase de conclusão, uma terceira escola com quatro salas, no Alto do Matão. Aí, já seria uma escola mista. Foi aí nessa escola que fui fazer o então, exame da quarta-classe, em 1966.
Na escola onde andei, existia outro edifício nas traseiras que servia de refeitório, tinha duas salas espaçosas de refeitório nas partes laterais, com a cozinha na parte central. Era um refeitório para as raparigas e outro para os rapazes, mas, no meu tempo, as raparigas que iam comer ao refeitório não eram muitas, então, comíamos separados, mas, na mesma sala.
Eram tempos diferentes. A cantina não funcionava em todo o período escolar, e nessas alturas ia a casa almoçar, fazia 3 Km para cada lado sempre a correr. Ou seja, fazia esse itinerário quatro vezes o que perfazia a distância de aproximadamente 12 km.
Ainda sobre a escola. A minha professora da primeira à quarta-classe foi a Dona Jesus, era uma professora exigente, que gostava de transmitir com rigor aos seus alunos as matérias dadas naquela época. Era também a esposa do diretor da escola, o professor Andrade, que lecionava na sala em frente, o relacionamento entre eles já tinha tido melhores dias.
O marido tinha um relacionamento mais íntimo, com outra professora que lecionava no piso superior, uma açoriana com uma boca enorme e com uma voz que se fazia ouvir na sala de baixo. Por esse motivo algumas vezes a minha professora sentia-se mal e, pedia-me, “ó russito vai chamar o táxi do senhor Alberto para me vir buscar”. Como eu tinha o cabelo todo lourinho, ela tratava-me assim, e lá ia eu todo contente a correr até à praça dos táxis chamar o senhor Alberto, um senhor alto, simpático já com uma idade avançada, penso que era da Azinheira. Para mim era um momento de contentamento, pois vinha de táxi até à escola, andar de carro naquela altura não era para todos.
Outras vezes, no inverno, como a escola não estava dotada de aquecimento, pedia-me para ir a casa dela buscar uma braseira, era uma caixa de lata com buracos e uma pega na parte superior. A criada dela tinha pena de mim e, lá me arranjava um trapo para eu embrulhar nas mãos e não me queimar.
Estas são apenas algumas notas, de factos do século passado.
Nota: atualmente nesta escola, está a funcionar a Universidade Sénior de Rio Maior.
Rio Maior, 6 de janeiro de 2022
João Teodoro Miguel escreve às quintas feiras no Rio Maior Jornal
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