A Importância da Imaginação
A imaginação é a capacidade de criar conceções internas, alicerçadas no mais vasto território do mundo: o nosso mundo interno.
Esta função cerebral tem um papel fulcral na descoberta e invenção dos mais diversos utensílios do dia-a-dia. A sua função é tão necessária que pode ser considerada como o combustível dos grandes inventores, sendo que antes da construção de qualquer mecanismo ou tentativa de qualquer experiencia, o inventor necessitou de imaginar os procedimentos ou peças que viria a construir.
Visto que se costuma dizer que a necessidade é a mãe de todas as invenções, considero que a imaginação é o professor das inovações.
Onde a imaginação tem uma função mais notada e sentida por todos é na expressão e desenvolvimento da nossa verdadeira identidade. É a partir da mesma que exploramos as profundezas do nosso pensamento, assim como as suas capacidades e limitações.
Como a imaginação abre opções inimagináveis a todos, permite ao mais comum dos mortais ser aquilo que sempre desejou ser. A partir destas viagens é possível perceber quais os nossos verdadeiros desejos e ambições para a própria vida, descobrindo assim as verdadeiras motivações do nosso eu interno.
Em última análise, sabemos que evoluímos por experimentação, tentativa e erro, e imaginando é a forma mais próxima do real que encontramos, antes de efetuarmos o que quer que seja. Neste seguimento, poderemos considera-la volátil e frágil, pois não funciona no concreto e sim na construção mental. Não deixando devido a esta limitação, de ser o mais fiel transporte que possuímos para experimentar o que nunca tivemos ou fomos.
Por outro lado, esta forma de pensamento teceu praticamente todas as religiões conhecidas, tendo como seus frutos as lendas e mitos, em que o homem se inspirava em fenómenos que desconhecia e imaginava uma explicação para acontecerem. Neste campo em concreto, funciona como uma busca de respostas e conclusões que nos norteiam num caminho sobre o qual desconhecemos o local do desfecho final, sobre o qual apenas conseguimos imaginar: o que haverá para além da morte?
Uma outra área em que a importância da imaginação costuma ser pouco reconhecida é no seu papel dentro de comunidades desfavorecidas. Este efeito positivo pode ser notado desde o início dos grandes movimentos artísticos. Desde o movimento punk nos anos 70, até ao posterior impacto do hip-hop, a imaginação e expressão da mesma tem estado muito presente nestas comunidades.
Tendo isto em conta, penso que a expressão imaginativa deveria ser encorajada em todos os domínios e em todos os grupos populacionais, uma vez que pode constituir uma forma de escapar à realidade vivida diariamente, podendo também levar à fuga definitiva e permanente de condições desfavoráveis, abrindo portas a uma nova realidade. Eventualmente pouco cultivada hoje em dia, pela extrema facilidade de acesso a conteúdos já fabricados, parece-me muito pertinente o recurso a ela no meio académico, como forma de organização mental, pessoal e social.
Em resumo, a imaginação é um território amplo e infindável, com múltiplas possibilidades e fértil em desenvolvimentos. Sem ela ficaríamos à mercê dos sentidos concretos, e a condição do nosso pensamento iria reduzir a existência a uma simplicidade sem margem para o crescimento. O ser humano seria totalmente diferente, sem esta grandeza de expressão, de individualidade e de possibilidade de evolução.
“ Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce” – Fernando Pessoa
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Carla Raposo Ferreira, é Psicóloga e escreve às Segundas-feiras no Rio Maior Jornal.