Entrevista com João Levezinho
Conhecer a história é fundamental para preservar a memória de uma sociedade, neste número dedicado às tasquinhas de Rio Maior, numa conversa amena na sua oficina, o RMJornal falou com o João Levezinho, o riomaiorense de adoção, que foi quem espoletou a primeira realização das tasquinhas de Rio Maior em 1986.
RMJORNAL: Caro João Levezinho, estamos com mais uma edição da Feira das Tasquinhas, à porta; como foi que tudo começou há 37 anos atrás?; O João Levezinho e mais uma série de pessoas estiveram à frente, como é que foi?:
João Levezinho: Não. Havia o festival da gastronomia em Santarém e eu um dia fui ao festival, e comecei a ver… terras de um lado, terras do outro, eh pá, falta aqui Rio Maior, nessa altura era Presidente da Câmara o Senhor José Pulquério e falei com ele. Ó Senhor Zé há isto assim e assim e assim, então e não há ninguém a representar Rio Maior, então porque é que não se monta, e ele disse-me: …pró ano estamos em tempo de eleições, eu estou a concorrer, temos de fazer uma tasquinha, foi então que fui representar Rio Maior dois anos a Santarém.
RMJORNAL: Quem é que ia consigo nessa tasquinha?
João Levezinho: Era eu, o Eduardo que era o cozinheiro, um dos anos foi o Cameiro que tinha fechado a JOFRAMA e era o Manelito não o Manelito foi cá…
RMJORNAL: Foram lá montar uma tasca de Rio Maior?
João Levezinho: Não, o Sr. José Pulquério, a Câmara, é que montou lá aquilo tudo.
RMJORNAL: E o João estava à frente?
João Levezinho: Sim, eu estava à frente dessa situação, fiz dois anos, ao fim do 2º ano, vim e disse ao Senhor Zé, então a gente tem aqui condições pra fazer umas tasquinhas aqui assim…, andam sempre aqui os presidentes de Junta a chatear para isto e pra aquilo
Eh pá, olha se vês que isto tem pernas pra andar, pró ano estou em concorrer às eleições, se eu ganhar tu tens luz verde pra organizar isso…
Eu como estava na associação de pais da escola secundária, estava lá o Silvino; eu também estava a dar um certo apoio ao Silvino, falei com o Silvino, e ele disse se eu ganhar também tens luz verde…Assim foi; ele ganhou em Dezembro e eu em Janeiro pus logo, então e agora as tasquinhas como é que é? Vamos embora…
RMJORNAL: Foi falar com o Dr. Silvino, nessa altura que ele tinha acabado de ganhar as eleições?
João Levezinho: Exatamente, e então juntei o grupo. Era eu, o Paulo Polícia, o Alcides, Ivone Capitão, Mª José Figueiredo, Margarida Vieira, o Zé e a São que era empregada lá da Guida Vieira na papelaria, fomos os sete pra frente e organizámos então as primeiras tasquinhas.
RMJORNAL: Então e como é que foi organizar as primeiras tasquinhas? Como é que fizeram?
João Levezinho: Organizar a primeira tasquinha era para associações Desportivas e Culturais, e as juntas de freguesia, nessa altura eram sete, depois é que aumentaram pra 13?
RMJORNAL: Treze ou 14?
João Levezinho: A última foi a da Assentiz
Entretanto reunimos as juntas, compareceram todas, das associações, apareceu, o Alto da Serra, aqui a Freiria, apareceu ainda mais uma ou duas que agora não me lembram bem, pode ser que os colegas se lembrem disso…
Aquilo no primeiro ano foi logo um sucesso, toda a malta gostou,
RMJORNAL: Muita gente?
João Levezinho: Muita gente, logo muita gente
RMJORNAL: E fizeram aonde. Sr. João?
João Levezinho: No pavilhão velho da Mina.
RMJORNAL: Mas não tinham as condições que tem hoje?
João Levezinho: Não, não tinha condições mas aquilo arranjou-se, com umas condições mínimas, mas arranjou-se. Se fosse hoje a ASAE e essa coisa toda, nunca mais…
RMJORNAL:Mas como é que foi levaram para lá gaz…(e as outras coisas)?
João Levezinho: Gaz? Levou-se tudo… Por exemplo, as Alcobertas e o Alto da Serra apareceram lá com umas tascas altamente bonitas, todas feitas em pedra¸ outras em madeira, e essa coisa toda ; ali se cozinhou e se fez tudo o que era comestível…
RMJORNAL:O João tem ido todos os anos às tasquinhas, quais são as maiores diferenças que apontam entre a última edição e a primeira?
João Levezinho: A maior diferença é a qualidade e a higiene, isso aí não tenha dúvidas nenhumas que as tasquinhas hoje estão ao nível, para mim, das que eu conheço, e conheço algumas, estão ao nível nacional.
RMJORNAL: Mas é normal as pessoas queixarem-se que hoje não há dirigentes e que as pessoas não vão, era diferente em 1986 de agora?
João Levezinho: Não, o entusiasmo foi sempre o mesmo, e estou convencido que quando é para comes e bebes aparece o pessoal todo.
RMjornal : Nessa altura eram jovens ou menos jovens que estavam à frente dessas coisas?
João Levezinho: Eram jovens, eram jovens, está ver o mais velho era eu, é uma diferença dentro daquele grupo de 7 quase de 15 anos, entre eu e o Paulo Polícia, o Paulo Polícia e o Alcides eram os mais novos … eu estou com 80 anos, vou fazer… está a ver… eles devem andar para lá dos 60.
RMjornal : O João vai sempre à inauguração das tasquinhas?
João Levezinho: A Câmara não se tem esquecido disso, tem lá até uma placazinha…
RMJORNAL: E o que é que sente no dia da inauguração das tasquinhas, agora que não tem responsabilidades …
João Levezinho: Quando estou com o pessoal, realmente sinto-me…sinto-me, sinto-me orgulhoso. Sinto-me orgulhoso, e vejo que é um evento que já não pára.
Ahh e ainda temos de falar de uma outra coisa: as tasquinhas vieram para substituir um outro evento que era a feira de março. Rio Maior tinha duas feiras que era a de setembro e a de março acabou.
RMJORNAL: Porque eram dois momentos importantes da agricultura, a de março para preparar a safra, digamos e a de setembro para já próximo das colheitas e das vindimas.
João Levezinho: Foi nessa altura é que eu falei com o Silvino e disse vamos reabrir a feira de março, e foi assim pronto fica em março.
RMJORNAL: Lembra-se dessa feira de março, era grande?
João Levezinho: Lembro, lembro, já era uma feira grande, inferior à de Setembro, mas já era uma feira jeitosa, lembro-me e lembro-me também da construção da igreja, lembro me destas coisas…
RMJORNAL: O João não é de Rio Maior?
João Levezinho: Não sou de Vila Franca, estabeleci-me aqui, sem conhecer ninguém nem ninguém me conhecer a mim,
RMJORNAL: Já neste ramo das oficinas?
João Levezinho: Sim, sim, neste ramo.
RMJORNAL: E agora com a questão da certificação da oficina ainda melhor?
João Levezinho: Sim, essa foi mais uma coisa que eu trouxe para Rio Maior…
RMJORNAL: Está satisfeito com isso.
João Levezinho: Estou muito satisfeito, satisfeito, feliz, muito grato com as pessoas de Rio Maior, são pessoas que me estimam.
RMJORNAL: O Vereador Brites? Qual foi o papel do Vereador Brites?
João Levezinho: O Brites foi fundamental, foi uma peça muito importante, sempre muito dinâmico e sempre um apoio muito grande.
RMJORNAL: As colectividades ficaram satisfeitas?
João Levezinho: Muito muito, e ainda hoje….
RMJORNAL: E não tem assim nenhuma história mais pitoresca que nos possa contar? Olhe conte lá o episódio da propaganda….
João Levezinho: Andávamos a distribuir publicidade….
RMJORNAL: Distribuir publicidade nessa altura era colar cartazes, ou era folhetos?
João Levezinho: Não, era colar cartazes, a câmara disponibilizou o Henrique Granada, era o nosso motorista, para nos acompanhar para isso e tivemos de fugir.
Andávamos a colar cartazes…
RMJORNAL: Como no tempo da política?
João Levezinho: Sim, cada um de nós tinha a nossa vida de trabalho e à noite é que íamos fazer, não é? E então era meia-noite ou coisa parecida, numa rua no Cartaxo, e aparecem lá dois outros indivíduos, a ralharem:
RMJORNAL: Mas isso ainda tinha a ver com o ser de Rio Maior, ou foi só por estarem a colar cartazes?
João Levezinho: Não, foi só por andar a colar cartazes, aparecem de lá dois ou três moradores, saiam daqui andamos fartos disto, estamos fartos desta brincadeira de políticas vai tudo já corrido a tiro. (Risos)
RMJORNAL: Alguma coisa que tenha assim presente de alguma tasquinha… algum famoso que tenha cá vindo? Alguma coisa mais engraçada?
João Levezinho: Não, a coisa mais engraçada que eu tenho… foi no final do dia , à noite, pronto ficava a Guarda a guardar aquilo , e a Asseiceira, não é? quase todos os anos trazia um boneco, um resineiro, um boneco vestido de resineiro… coitado o Tio Pancadinhas, o Pancadinhas, era o guarda do pavilhão… a malta começou a limpar, estava na hora de vir embora, e estamos todos à porta à espera a guarda a ver … e era o Pancadinhas com uns copos bons.. virado para o resineiro:
Vá pá, anda daí, vamos embora, isto já acabou, acabou-se, está o pessoal todo a sair,
Vem então o Pancadinhas ter connosco a dizer, eh pá , vocês vão lá, está li um gajo teimoso que eu sei lá que não quer sair….(Risos)