Desde a antiguidade que os povos tinham ocasiões próprias para se reunirem em Festas & Feiras.
A Feira da Cebola, não foge à tradição.
Pegando quase sempre em tradições com bases pagãs e juntando-lhe rituais católicos, os povos sempre aproveitaram acontecimentos cíclicos associados à Natureza, para se reunirem, muitas vezes durante dias, e juntarem a necessidade de “mercar” produtos que lhe faziam falta para as suas lidas a momentos de diversão.
Assim era na Feira da Cebola, quando na sua época, se vinha comprar e vender cebola e preparar os agricultores para a vindima que se aproximava.
Hoje ao invés de Feiras temos Summits!
É verdade. Mas haverá assim tanta diferenças?
Se o leitor pensar bem, não há assim tanta diferença, entre uma feira e romaria, e os actuais “summits”, esse pretensioso (estava quase a escrever snob) inglesismo, que quer dizer cume (sim, cimo de um monte), e que actualmente decidiram neste mundo, (que continua com conflitos como o Afeganistão, que duram há séculos, mas o google nos diz que iniciaram em 1980), decidiram neste mundo, dizíamos, utilizar para designar os encontros mais importantes de uma qualquer temática.
Temos o WebSummit, a feira onde se discutem os assuntos da Web e por consequência das inovações tecnológicas. Temos O LeaderShip Summit Portugal, onde pretensamente se mostrarão estratégias de sucesso em liderança… . E teremos tantos Summits quantos quisermos procurar nos motores de busca….
Ora o que têm estes eventos actuais em comum?
- entradas pagas,
- um preço de bilhetes elevado com uma necessidade de aquisição antecipada
- a propalada sensação de que se participarmos neles, estaremos a aceder não só a uma informação privilegiada,
- como à possibilidade de acedermos a uma rede contactos,
- intercalados com momentos de ampla diversão, quando não de completa extravagância.
Nada que não venha à memória quando revisitamos os relatos da literatura sobre as feiras medievais, ou os filmes do Robin Wood, e nos deparamos com os lugares comuns dos contrastes de uma religiosidade que se alterna com momentos de completo deboche de homens embriagados e mulheres de seios generosos e faces encarniçadas.
Se participar num desses summits, só o preconceito poderá esconder as semelhanças entre os jovens de hoje a “enfardar shots” e “desbumdar kizomba” e as cenas das tabernas medievais com as canecas a esbordar de vinho ou de cerveja, com cenas de disputa para demonstração de virilidade de um qualquer grupo de viajantes que ocupava as mesas para comer e se divertir.
Este eventos dos dias de hoje não são, mais ou a menos que as feiras e romarias, que por esse país fora se vão ainda celebrando e que as restrições da pandemia, ou palermia, tanto tem restringido. Com bilhetes menos caros, e pouca necessidade de compra antecipada!
Tal como o poder se desdobra em apoios chorudos a estes “cumes”, por achar que são uma mais valia para o tecido económico, também o rei isentava de terrado os feirantes, nas conhecidas feiras francas, para que não faltasse incentivo aos mercadores e um mar de gente viesse às suas terras.
Nas Festas e Romarias, vinha gente de “todo o lado” e a viagem era preparada com tempo, e obrigava a logísticas próprias, que iam desde a procura de local para pernoita, ou da utilização de mantas e outros preparos para o descanso, tal qual como acontece com os “charters” para as viagens e a diferenciação entre Alojamentos locais, e hóteis de cinco estrelas, nos actuais summits.
E, tal como hoje, relações de afecto resultam destes eventos, também não faltam casamentos cuja origem tenha tido origem numa ida à festa de outra terra mais ou menos vizinha.
Igualmente, não há festa sem área de refeições, igual aos “summits”, e igualmente com a sua hierarquia, obviamente associada, entre outras variáveis, ao preço.
Talvez não se consiga encontrar nas feiras um local com um escansão, como se encontra no restaurante VIP desses encontros, mas é sempre fácil verificar uma hierarquia em todos os locais que servem refeições nas feiras, uns para bolsas mais poderosas e outros para menos abonados, das sandes de torresmo, ao frango assado, ou a outros repastos mais cuidados, se houver euros não se passa fome.
Cada feira tem também uma certa especialização, como é o caso da Feira de Cebola, que manda a tradição se realiza no primeiro de dia de Setembro, e este ano volta às suas raízes tendo como principal produto a Cebola.
Desde há muitos anos que os ceboleiros da região se juntavam para comercializar os seus produtos nos primeiros dias de Setembro, e quando em 2019, a organização tentou alterar a data de realização para três ou quatro dias mais tarde, provavelmente com a intenção de atrair mais pessoas, que tivessem terminado o período de férias, os queixumes dos feirantes, e de alguns “romeiros” menos informados que na data consagrada bateram com o nariz na porta, e ficaram desiludidos, foram substanciais.
As restrições impostas pela pandemia, bem aproveitadas, para pôr a tónica no Mercado da Cebola, recuperaram a tradição, Feira Nacional da Cebola.
Não faltarão ceboleiros e mercadores, espaços para saciar o apetite, ofertas de produtos da feira, que estarão patentes no primeiro andar do Pavilhão multiusos, com uma tónica nos produtos agrícolas, nesta edição 2021 da Feira da Cebola.
Também o cartaz das “diversões noturnas” tem no programa um conjunto de grupos musicais de renome.
Ora em tempos modernos, voltarão a ser necessários os salvo-condutos, agora designados certificados sanitários.
Depois disto tudo não poderíamos considerar a Feira da Cebola, como uma Onion Summit? eu cá prefiro mesmo o tradicional da Língua Portuguesa.
Vá a feira da Cebola e divirta-se!
O Programa da Feira da Cebola pode ser consultado aqui
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