Luís Filipe Santana Dias – A Questão da Água
RM Jornal: Focando-nos agora na questão da água e nos problemas associados. Em relação às águas há dois aspetos que são fundamentais, e que o presidente Filipe Santana Dias, tem referido várias vezes, uma delas é a questão do preço em alta e do preço em baixa e a segunda é das perdas.
Luís Filipe Santana Dias: São a mesma questão!
RM Jornal: A pergunta que eu lhe faço muito diretamente é: se é possível manter o contrato, e sei que há coisas que se negoceiam que não são para dizer para os jornais… mas é possível que possa haver resoluções de contratos, se as água do oeste não conseguirem, de alguma forma dar solução aos problemas que existem neste momento em Rio Maior?
Luís Filipe Santana Dias: Respondendo diretamente, a falha, o problema principal em rio maior que faz afetar a má qualidade do serviço, que faz afetar o preço, é o mesmo das perdas. Nós temos uma entidade reguladora o ERSAR que nos obriga, as câmaras não têm outra escolha, a refletir no cliente todo o preço, todo o custo da operação. Quando nós temos um sistema que neste momento tem 47 ou 48% de perdas…
RM Jornal: isso é um sacrilégio …
Luís Filipe Santana Dias: É um crime…Não é expectável, e importa dizer uma coisa: temos feito alguns investimentos já com a minha gestão, e desculpem a imodéstia, temos feito alguns investimentos importantes no sector de águas e isto traduz-se depois em pequenas melhorias mas que é uma tendência de melhoria, Rio Maior tinha em 2017 quando eu cheguei à câmara e desde os tempos imemoriais até esta altura perdas em crescendo, até ter atingido o máximo em 2017 – creio eu, de 52% e depois de termos feito investimentos cirúrgicos e pontuais que permitem que tenhamos recuperado por ano, 1 – 2%.
RM Jornal: Sabe melhor que eu, havia situações gritantes e incompreensíveis, do ponto de vista do valor do investimento, como por exemplo, reparar as bóias dos depósitos.
Luís Filipe Santana Dias: Sim, além dessas perdas, nós tínhamos… o facto de não termos tele-gestão em muitos pontos do nosso fornecimento, quando acontecia alguma coisa ninguém sabia de nada, ou porque o depósito não tinha água ou porque estava a transbordar , só quando chegava à estrada é que se sabia. E isso foi resolvido felizmente, foi resolvido salvo seja, foi muito minorado e fizemos investimentos que nos permitem hoje termos uma taxa de recuperação, ainda que insuficiente, claramente tendencialmente decrescente isso deve obviamente alegrar-nos, não nós deve é sossegar, porque o grande problema de Rio Maior quando celebramos o contrato com as águas do oeste aqui a crítica tem falado disto ao longo dos anos, ainda presidente de junta tinha falado isto, foi que nós compramos um serviço supostamente de excelência em alta para o meter num “cesto roto”.
O principal problema da cidade de rio maior, prende-se com o seu abastecimento principal, o depósito da via-vai pra cidade e aqui entram três ou quatro fatores que são uma mistura explosiva no serviço de águas.
Em primeiro lugar dizer, que a nossa conduta principal de abastecimento à cidade ainda é uma conduta de um diâmetro significativo de 350mm em fibrocimento, o que faz com que a gestão física da própria conduta tenha de ser feita com pinças dada a fragilidade da mesma, e este é um problema que vamos já minorar, se a obra da N114 for feita, vamos já substituir todo aquele troço. Estamos em cima de uma bomba relógio, falando no sector das águas. Depois, temos a dificuldade de não termos zonas de medição e controlo de pressão que permitam na nossa rede de águas poder fazer uma gestão, nomeadamente, de pressão noturna. Estas zonas de pressão e controle são complementadas com válvulas reguladoras de pressão que permitem que as pressões noturnas sejam reguladas.
RM Jornal: Se quer que lhe diga, admira-me não haver mais queixas dos utilizadores com as diferenças de pressão que existem que estragam equipamentos e que provocam perdas. Perdas que não são despiciendas… a perda da torneira a pingar é uma perda importante…
Luís Filipe Santana Dias: Sem dúvida, sem dúvida…. e se nós virmos isto ainda por outro prisma, que a partir de determinado momento na legislação portuguesa foi deixar de exigir aos construtores que tivessem nos seus próprios prédios estações e elevatórias de água e pressurizadoras faz com que nós tenhamos que garantir nos rês de chão uma pressão tal que dê serviço a um quinto andar em qualidade. Isto tudo junto com, rede com várias perdas dos mais vários níveis, uma conduta principal abastecedora muito frágil e com pressões enormes que têm de ser garantidas para poder fazer isto, é uma mistura explosiva.
E aqui, deixe-me dizer o defeito principal deste sistema, a nossa conduta adutora é a mesma conduta que é distribuidora, isto quer dizer o quê, a mesma conduta que leva é a mesma conduta que espalha isto não pode ser feito, isto é um erro crasso, era assim eu se fazia…
RM Jornal: Deixe-me aproveitar a sua explicação, isso era a mesma coisa que nós nosso corpo em vez de termos uma rede de vasos que começa no coração com a aorta que depois passa para artérias mais pequenas e depois para capilares, termos só uma aorta!
Luís Filipe Santana Dias: Isso mesmo, sem dúvida é uma comparação perfeita. Nós estamos a resolver isto, como tenho dito, em 2017 pedi para fazerem um projeto de investimento na área de influência do depósito via-vai, que é o principal, é um investimento que custa cerca de 1 milhão e trezentos mil euros, a ser feito; é algo que nós temos pronto para avançar assim que haja essa abertura de candidatura e ao que tudo indica o ciclo urbano da água vai ser um ponto forte de abertura de oportunidade para podermos fazer esse investimento, e é o que queremos fazer porque não se admite que os riomaiorenses, e infelizmente isto não é só um problema de rio maior, infelizmente por este país fora temos perdas, acho que há concelhos com perdas de 70% isto é um crime ambiental de todo o tamanho.
Não se admite é que os riomaiorense quando nos queixamos do preço da água, e eu sou o próprio a defender isso mesmo, quando nos queixamos do preço da água, e ao contrário do que também algumas pessoas dizem, não somos a água mais cara do país mas não são baratas, não são justas porque se nós estamos a pagar água porque deitamos fora isto não faz sentido a ninguém, nem pode fazer sentido a quem está na minha posição.
O riomaiorense quando se queixa do preço da água tem de ter razão, porque nós não podemos enquanto gestores deste serviço, nós não podemos exigir, embora a entidade reguladora assim obriga, não tenho outra forma-se o fazer, mas não se pode exigir ao consumidor que pague a ineficácia do prestador de serviços.
RM Jornal: E isso leva-nos para a pergunta inicial, está disposto a exigir ao prestador de serviços o que lhe é devido? É possível fazer isso?
Luís Filipe Santana Dias: Estou, confesso que tenho pouca esperança e digo- lhe porquê, porque quando rio maior em 2003 (se não estou em erro) firmou este contrato, firmou contrato em alta, ou seja, o serviço em alta de água e o serviço em alta tem condições de ser prestado e a partir do momento em que ele deixa de estar em alta e passa a estar em baixa que é responsabilidade do município é que ele não tem condições para ser prestado, ou seja, eu não posso vender-lhe um carro de fórmula 1 e ser responsabilizado pelo facto do meu amigo morar numa estrada de terra batida e estragar o carro todo. E o que nós fizemos, na minha opinião, merecia um investimento a priori para que depois pudéssemos comprar um serviço em alta de qualidade e ser um serviço globalmente prestado com qualidade, há que reformular o serviço em baixa.
Aquilo que eu… lutámos todos, para que pudesse ser corrigido foram os tais mínimos que em tempos todos foram existentes e toda a gente apelidava de irregulares e isso foi sendo resolvido e resolvido ficou. Isso era uma injustiça grande, agora não sei se nós temos legitimidade para culpabilizar o prestador de serviços, que é prestador de serviços até ao depósito onde armazena a água e daí para baixo é da responsabilidade do município, quando da parte desse prestador as coisas estão corretas, nós é que estamos a falhar porque estamos a meter água num “cesto roto”.
Obrigado!