Conversa com Mafalda Rosa
RMJornal: Olá Mafalda Rosa, Antes de mais parabéns pela tua excelente época desportiva e pela obtenção do título de Campeã europeia de Juniores, e também pela tua excelente colaboração com o Nuno Albuquerque no comentários da RTP1.
Muito obrigado por teres acedido ao pedido do RMJORNAL, e disponibilizares o teu tempo para nos conceder esta entrevista.
RMJornal: Esta época estiveste dentro da classificação olímpica, em Setúbal, só ultrapassado pelo critério de uma atleta por país, e depois foste Campeã da Europa em Juniores.; És a terceira atleta de Rio Maior, a conseguir um título Europeu. Que balanço fazes desta época?
Mafalda: Esta época foi repleta de altos e baixos. Na prova do Qatar fui alvo de uma conduta antidesportiva na última volta da prova e acabei com um 26° lugar. Na qualificação de Setúbal, devido a alguns erros cometidos, não qualifiquei para os Tokyo 2020. Porém, no Europeu de Júniores consegui finalmente o tão desejado 1° lugar nos 10Km. Também na Taça da Europa na Macedónia consegui um excelente 3° lugar. Com isto só tenho a concluir que aprendi bastante com os erros cometidos nas primeiras provas da época, e com essas experiências consegui resultados de excelência.
Como começou
RMJornal: Já fazes natação há muitos anos, quando iniciaste qual era a tua ideia? Quando tiveste a certeza de que irias ser nadadora de nível internacional?
Mafalda: Já pratico natação desde os 3 anos de idade. No início era apenas por diversão porém, quando bati o meu primeiro recorde nacional aos 1500L em piscina, entendi que podia chegar muito mais longe. Depois de mais alguns recordes nacionais, experimentei o nacional de Águas Abertas, onde me sagrei campeã nacional dos 5Km Júnior. A partir daí, comecei a gostar cada vez mais da disciplina e esforcei-me cada vez mais até chegar onde estou hoje.
RMJornal: A maior parte das pessoas não faz ideia de quais são as rotinas de uma nadadora com o teu nível desportivo, queres resumidamente dizer-nos como é um dos teus dias “normais” de treino?
Mafalda: Para treinar para Águas Abertas é necessário dedicar muito tempo para treino mas também para recuperação pois a disciplina desgasta o corpo muito mais do que as distâncias feitas em piscina. O meu dia começa às 5:30 com um bom pequeno-almoço. Às 6 vou para as piscinas e treino das 6:30 até às 8:30. Logo de seguida tenho mais um pequeno-almoço e vou direto para o ginásio das 9:00 às 10:00. Vou para as aulas, almoço e às 15:00 vou outra vez para a piscina até às 18:00. Tomo um pequeno lanche e vou novamente para o ginásio das 18:30 às 19:30. Dependendo do dia, posso ter massagem ou spa com crioterapia.
Fibra de Campeã
RMJornal: Durante a carreira de uma nadadora há sempre momentos bons e maus momentos; Se tivesses que nos contar, quais foram o teu pior e o teu melhor momento, queres partilhar?
Mafalda: Depois de uma tempestade vem o arco-íris”. Isto é o que costumo pensar sempre que estou numa altura difícil. Penso que o meu pior momento foi em Setúbal. Fui á prova com o objetivo de apurar para Tokyo mas sem sucesso. Mesmo que me digam que sou muito nova para ir aos Jogos ou que vou ter mais oportunidades fiquei com aquele sabor amargo na boca. Claro que no dia que o Tiago qualificou em fiquei bastante feliz por ele mas também triste por não poder ir com ele. Foi um pouco difícil nos dias seguintes mas a vida continua e continuei a trabalhar pois a época ainda não tinha acabado, ainda tinha o Europeu de Júniores. Posso dizer com 200% de certeza que foi nesta prova que tive o melhor momento da minha vida. Ao cruzar a meta em 1° lugar senti orgulho e alívio pois mesmo depois de alguns momentos um pouco difíceis, todo o meu trabalho foi finalmente recompensado.
E o Futuro?
RMJornal: Tens privilegiado as águas abertas? Como vais programar a conciliação da época de natação em piscina, com as águas abertas? Que importância percentualmente tem cada uma; vais manter essa ponderação?
Mafalda: Posso afirmar com toda a certeza que as Águas Abertas vão contar a ser a minha prioridade. Claro que vou continuar a fazer provas de piscina mas estarei mais focada nas maratonas. É o que mais gosto e o que me faz feliz para além de poder viajar o mundo, outra coisa que adora fazer.
RMJornal: Quais são os teus projectos para a próxima época? As provas de estilos, nomeadamente os 400E não são uma opção? Qual é o teu próximo objectivo desportivo?
Mafalda: A próxima época está reservada apenas para as Águas Abertas. Vou buscar o Projeto Olímpico nos mundiais em Fukuoka. Vou manter o meu título de Campeã da Europa e vou buscar a medalha no Mundial Júnior. Também tentarei fazer TOP 10 no Europeu de absolutos.
Não estou a pensar em trabalhar muito nos 400E pois só faço essa prova só por participação. O meu próximo objetivo será ficar no Top 5 na próxima taça da Europa em Barcelona.
RMJornal: Nunca estamos satisfeitos com as condições de treino, se pudesses pedir um desejo, para optimizar as tuas condições de treino o que querias?
Mafalda: Já tenho todas as condições que um atleta pode desejar para evoluir graças á DESMOR, Centro de Alto Rendimento de Rio Maior, á Federação Portuguesa de Natação e ao Clube de Natação de Rio Maior. Porém gostava de ter um pouco mais de apoio financeiro para facilitar as logísticas dos estágios em Altitude ou noutros tipos de estágios, viagens e algumas provas internacionais para além de alguns materiais que possam ser necessários.
RMJornal: O que achas que pode explicar que em Rio Maior, um concelho com tão poucos habitantes possa ter tanto sucesso no Desporto de Alto rendimento? Achas que existe a mesma influência no chamado “desporto para todos”?
Mafalda: Creio que Rio Maior tem bastante sucesso no desporto de alto rendimento por ter muita diversidade e oportunidades para além de excelentes condições para os treinos de qualquer modalidade. Claro que o que mais importa é a vontade, espírito competitivo e sacrifício de todos os atletas da cidade de Rio Maior.
Para além do Desporto
RMJornal: Para além de nadares, que mais gostas de fazer? Que músicas gostas de ouvir, qual é o teu grupo favorito?
Mafalda: Gosto de viajar, ir ao cinema, ler e desenhar, Gosto de rock, e também gosto Alan Walker
RMJornal: Qual foi o último livro que leste e gostaste?
Mafalda: Código da Vinci de Dan Brown
RMJornal: Um lugar de sonho para passar férias?
Mafalda: Hawai
RMJornal: O que mais te deixa mal disposta fora dos assuntos relacionados com a prática desportiva?
Mafalda: Não gosto de ser ignorada mas também não gosto de ser o centro da atenções. Não aceito traições e demoro muito tempo para confiar totalmente em alguém.
Mafalda Rosa, nasceu em 02/11/2003 nas Caldas da Raínha, mas pertence à freguesia de S. João da Ribeira, e iniciou a prática da natação com 3 anos de idade por pura diversão. Mais tarde abraçou a actividade competitiva, e demonstrou cedo uma excepcional apetência para as provas de fundo.
Desde cedo que o seu treinador, Nuno Ricardo falava nos círculos fechados de outros treinadores das suas qualidades, evidenciando a sua capacidade de se focar e perseguir objectivos; no dealbar dos seus 18 anos Mafalda Rosa, é no nosso entender, a maior esperança, da natação portuguesa. Não se escudou, em falhas, e considera ter o necessário ao nível das condições de treino, ou não fosse Rio Maior o Centro de Alto Rendimento para a Natação, mas necessita, obviamente, de apoio financeiro, para fazer face a deslocações e estágios de treino.
Tendo ficado em 10º lugar em Setúbal na prova de Qualificação Olímpica, lugar que dava acesso à qualificação (falhou por ser só um nadador por país), e que para todos pareceu uma grande sucesso, foi para ela um mau resultado, estas são as características das verdadeiras campeãs, focarem-se nos seus objectivos.
Tal como afirmou ao RMjornal, este foi um dos seus maus momentos, e mostrando de facto a firma de que é feita, Mafalda, que verdadeiramente ficou à porta dos Jogos Olímpicos, focou-se nos Europeus de Juniores e não fez por menos, sentiu nas suas palavras o “Arco-iris”, e sagrou-se campeã europeia.
Apesar de todos os resultados de excelência, segundo o Plano de Apoio ao Alto Rendimento (PAR) Mafalda, ainda não reúne condições para uma bolsa de Apoio de Alto Rendimento.
É obviamente obrigatório, que sejam revistos os critérios de apoio, de forma a equilibrar o mérito desportivo dos resultados com os apoios financeiros, e ser campeã europeia em 10 Km, ainda que no escalão júnior, bem como ter ficado em lugar de qualificação para os jogos, são de uma valia indiscutível, é pois exigível que a Federação Portuguesa de Natação e o COP se unam para tornar efectivo um apoio mais do que justo.
Para além dos apoios associados à qualidade de instalações desportivas, da UARE, unidade de apoio ao alto rendimento, temos a certeza e a entrevista deixa este aspecto bem patente, são o elevado empenho e dedicação que dão corpo a esse sucesso.
Apenas há mais um aspecto que não pode ser esquecido, a competência e dedicação do seu técnico, que sempre focado no treino entende bem a diferença entre o sucesso de Atletas e Treinadores, focando-se nas suas tarefas de planeamento, e acompanhamento das sessões de treino.
É portanto justo que saibamos aproveitar uma nadadora como a Mafalda Rosa, para a promoção do Desporto, e do nome do concelho de Rio Maior, será que é possível associar a iniciativa privada, com o aproveitamento da imagem de sucesso de um desportista e o financiamento público, com o investimento no apoio aos estudantes/atletas e na melhoria das bolsas de apoio?
Não deixaremos de ir acompanhando a tua carreira e ficaremos sempre a torcer por ti.
Obrigado Mafalda.
Para ver mais artigos como este procure na categoria Desporto