Sucesso – consequência positiva que expressa êxito; acontecimento favorável; resultado feliz; triunfo; vitória; conquista.
Indiscutivelmente, todos queremos ter sucesso. No entanto, se perguntarmos a cada pessoa qual é a sua definição de uma vida de sucesso, há grande probabilidade de obtermos respostas muito diferentes. Por que será, então, que um vocábulo tão repetido e aparentemente tão consensual esconde uma tal variedade de significados? Ou será que a diferença está nas pessoas que o usam, no tempo em que o usam e em todo um conjunto de princípios e pressupostos que dão corpo a um modelo de vida que elegeram para si próprios?
Na verdade, a palavra encaminha-nos sempre para o sinónimo que nos vem imediatamente à ideia: êxito. Há, pois, uma carga positiva nessa alusão implícita à sensação de felicidade, uma vez que as palavras têm, como é sabido e sentido, uma íntima relação com as nossas emoções. Porém, aquilo que faz cada um de nós responder com um “brilhozinho nos olhos” a um determinado estímulo pode pertencer a diferentes domínios da vida, de acordo com a nossa hierarquia pessoal ou com o que valorizamos mais, no contexto de um determinado momento.
Houve tempos, historicamente muito próximos, em que todo o sólido edifício social se mantinha inalterado e aparentemente inalterável, tal como havia sido desenhado pelos poucos que podiam fazer prevalecer os seus interesses. Aos outros cabia acomodarem-se ao que não tinha sido construído a pensar neles, mas sim à sua custa, sem escolhas que não fossem a sobrevivência e a subserviência. Para esta maioria, nesse tempo, sucesso era ter comida para alimentar a família e roupa para vestir. Para os outros, era possuir bens de luxo, frequentar lugares luxuosos, continuar a manter privilégios e educar os filhos em colégios que os preparassem para serem a próxima geração de poderosos.
Mas o mundo mudou, como sabemos! O determinismo social, não tendo desaparecido, aligeirou-se, o acesso aos números que o provam está ao alcance de todos. O sucesso veste-se de múltiplas roupagens e extravasa os limites impostos pelas anacrónicas definições.
Autoconvoquei-me (e convoco-vos também a vós, leitores, se os houver), para enunciar uma adequada definição de sucesso e para citar alguns nomes ilustrativos. Vamos lá, então! Tenho para mim que, quando se fala em portugueses de sucesso, nos lembramos mais depressa do Ronaldo do que de outros atletas de igual gabarito, mas de outras modalidades, já para não falar de escritores, atores, arquitetos, pintores, músicos, cientistas, professores, etc., etc.. Se isto é compreensível? É! Os palcos do Ronaldo são vistos e pagos por milhões de pessoas, porque o futebol faz parte da ordem estabelecida e serve de gatilho para a produção e libertação de adrenalina, que compensará o marasmo e/ou as preocupações da vida real. As emoções desencadeadas pelos heróis visíveis e tangíveis do futebol fazem os fãs acreditar que têm uma vida para além dos problemas do dia-a-dia, do trabalho sem horário nem descanso, das contas para pagar. E em nome dessa crença desculpam-lhes até as quantias pornográficas que recebem.
Depois há os atores e atrizes (com especial destaque para os de telenovelas), os/as cantores/cantoras, os protagonistas dos meios de comunicação e todos os que nos entram diariamente pela casa dentro. E se forem jovens e bonitos/as, passam a fazer parte da família e com privilégios, uma vez que nos influenciam com o que dizem ou deixam por dizer, com o que mostram e com o que consomem para construir a persona que nos vendem.
E ainda há os influencers propriamente ditos. Aqueles cuja mestria a expor as suas vidas nas redes sociais produz incontáveis likes, que são a medida do seu sucesso. Acredito que, a maior parte das vezes, a vida que expõem não é a que, de facto, têm, mas a que gostariam de ter ou a que acreditam que os seus seguidores esperam que tenham. Ora, todos sabemos que glamour não é uma coisa que adormeça e acorde connosco todos os dias, beleza é um conceito fabricado, tal como grande parte das caras e dos corpos dos influencers, os nossos filhos não estão sempre limpinhos e bem vestidos, as nossas casas não estão sempre envoltas em nuvens de bem-estar e as extravagâncias nem sempre são inofensivas e/ou aceitáveis. Sabemos isto, mas queremos ser parte deste universo de ficção que alguém nos mostra como se fosse real, permitindo-lhe manipular os nossos gostos e desejos e delegando-lhe até o que sonhamos e o modo como sonhamos. E… clic!, lá vai mais um like para engrossar o seu valor de mercado e, consequentemente, o seu sucesso. Já o nosso passa por tentar imitá-las/los, a maior parte das vezes sem sucesso, mesmo sabendo que no momento seguinte surgirá outro modelo a imitar, tão falso e volátil como o primeiro.
Há, em todos estes casos, uma caraterística comum. Os casos de sucesso que reconhecemos movem-se em palcos e chegam até nós maioritariamente através de écrans. E nós, espetadores da vida dos outros, contentamo-nos com uma espécie de sonho de contrafação que comanda uma vida de reality show.
Tempos estranhos, estes, em que acreditamos que o nosso sucesso nos será servido por um desconhecido através de um pequeno pedaço de vidro.
Post Scriptum: muito obrigada a todos aqueles que não se reconhecem neste texto, porque são esses que tornam o mundo melhor.