As coisas que se aprendem
Introdução.
Não imaginam como fiquei entusiasmado com o convite do Prof. António Moreira para participar no Rio Maior Jornal.
Como diria qualquer bom feirante: “Eu não estou aqui para enganar ninguém” e o melhor é dizer desde já ao que venho – pretendo expor algumas ideias demonstrando que existem alternativas à abordagem dos problemas da energia e do ambiente.
Não são ideias novas, pelo contrário são conceitos amadurecidos e consagrados em muitos anos de tratamento destes assuntos e que são agora postos em causa por ideias pouco fundamentados, quase experimentalistas.
No fundo, fico agradecido pela oportunidade de poder mostrar que esta coisa do “caminho certo” é muito relativa. Em tudo existem alternativas. Expô-las é dar esperança aos insatisfeitos e aos que acreditam que pode ser feito mais e melhor, ou pelo menos – diferente.
Só mais um ponto nesta minha introdução: vamos falar de política. O nosso futuro comum é determinado por políticas e políticos. As responsabilidades é que podem ser diversas.
Os conceitos.
É fácil acusar os portugueses de iliteracia. O caso da energia é sempre citado. Um sintoma é o de as pessoas se referirem à eletricidade como sendo a luz: “a conta da luz”, “faltou a luz”,… Claro que não é por ignorância, é mais o resultado histórico da primeira grande utilização da energia elétrica – a iluminação pública.
Pior é quando as próprias publicações oficiais citam “50 campos de futebol” como medida de área onde há painéis solares instalados ou a “alimentação de 20.000 casas” como medida de potência duma nova central elétrica. São apostas visuais de quem nos trata como burros.
Injustiça. Guardamos da vida e da escola os conceitos que nos ajudam a perceber os fenómenos do quotidiano. Ou, com os devidos cuidados, consultamos a internet. É o caso deste site onde se pode encontrar um glossário sobre conceitos energéticos.
Temos a ideia de que a energia primária é o início das cadeias energéticas, a energia antes de ser transformada ou convertida noutra forma. Por exemplo, o carvão, o petróleo, o gás natural ou o vento e o sol.
Quando as pessoas utilizam os aparelhos de consumo, recorrem à energia final – a energia que os consumidores compram: eletricidade, gasóleo, etc.
Por exemplo, o carvão da mina (energia primária) é queimado numa central térmica e produz eletricidade (energia final) que acende o candeeiro (energia útil) proporcionando a iluminação (satisfação de uma necessidade do nosso dia a dia).
Continuando com o regresso aos tempos de escola, àquelas coisas que não se esquecem, recordemos a potência de uma máquina, a sua capacidade de produzir ou consumir energia: a lâmpada de 7 W, o carro de 110 cv, o alternador de 300 MW.
As unidades mais comuns são o Watt [W], do Sistema Internacional mas, por exemplo nos meios de transporte, está generalizada a referência aos cavalos vapor [cv].
Para se obter a energia associada, multiplica-se pelo tempo de utilização e temos os kWh, ou no SI, o Joule ou Ws. É o que aparece nas faturas, para pagarmos.
A propósito do que disse anteriormente, publicações assumem 1 campo de futebol como 1 ha, ou 10.000 m2 e uma casa como 5.000 kWh/ano, se tiver 4 pessoas lá a viver.
Carvões.
Ficou no ouvido que, quando se falava de carvão, havia os tipos turfa, lenhite, hulha e antracite. Por esta ordem pelo valor crescente de poder calorífico, de dureza e de teor de carbono.
Em Rio Maior, no complexo mineiro do Espadanal, tínhamos as lenhites, no Pejão e em S. Pedro da Cova, antracites e no Cabo Mondego, hulhas.
Vale a pena lembrar também o carvão vegetal. Produzido a partir da lenha, se o ritmo de obtenção for compatível com o de utilização, podemos mesmo falar de uma energia renovável.
A sua produção é uma atividade quase artesanal, exemplar no nosso país e permite que se façam os tão apreciados grelhados no carvão de uma forma sustentável.
No passado mês de novembro de 2022 tiveram lugar em Rio Maior as II Jornadas Internacionais “Memórias do carvão”.
Tânia Prates apresentou um interessante e premiado documentário, da sua autoria, intitulado “Negro de Carvão”. Um valioso testemunho sobre a produção deste carvão no nosso país.
Recomendo vivamente a sua visualização.
Mas de carvão, temos muito para falar.