Por: Fernando Caldas Vieira
Recursos naturais.
Consegue-se entender facilmente. Os recursos naturais aumentam de preço à medida que se tornam mais escassos.
Podemos estar a falar de minérios, mas o mesmo princípio pode ser aplicado às pescas. Vimos como o preço da sardinha aumentou quando se impuseram limites à sua captura. É mesmo um bom exemplo para o tema de hoje. Limitando a pesca da sardinha, ao fim de algum tempo, evitou-se a sua extinção e as quantidades apanhadas puderam voltar a aumentar.
Sempre ouvimos dizer que os combustíveis fósseis iam acabar. Só havia reservas para menos de 60 anos, no caso do petróleo, um pouco mais, para o gás natural e mais de 100 anos para o carvão.
Vale a pena esclarecer o conceito de reserva, expresso em anos: é a divisão entre as quantidades de exploração economicamente viáveis e a quantidade produzida no último ano. Significa, pois, que o consumo do recurso ao preço e quantidade atual se pode prolongar pelo número de anos referido.
Assim as reservas aumentam se o preço aumentar, pois torna viável a exploração de quantidades adicionais desde que sejam localizadas – prospeção. Aumentam também se o consumo diminuir, uma vez que fica uma maior quantidade disponível.
Com este equilíbrio, a realidade é que o tal efeito de escassez pode demorar muito tempo a fazer-se sentir e, entretanto, surgem outras alternativas de abastecimento.
Voltando às sardinhas, quando a sua pesca parava, consumia-se carapau, chicharro ou cavalas. Não era a mesma coisa, mas era o que se tinha.
Sem nunca acabar.
As energias renováveis, apareciam assim como o melhor dos mundos. Sem problemas quanto ao seu abastecimento, no caso do vento e do sol. A água, apesar de dependente da pluviosidade, tem outras vantagens, através do seu aproveitamento para outros fins, seja o abastecimento às populações, seja até a atividade turística. A biomassa (a lenha) pode ajudar a prevenir incêndios e a geotermia, onde existe (nos Açores, por exemplo) é uma solução perfeitamente dominada. Mas… e os preços e os equipamentos?
Transição.
Temos assim de um lado os combustíveis fósseis, que não mostram evidências de falta e que para os utilizar temos equipamentos acessíveis, de tecnologia madura e aperfeiçoada, desde os automóveis, às centrais térmicas.
Do outro lado, as energias renováveis, que sem considerar o preço dos equipamentos, têm um custo variável muito baixo, como foi explicado no texto anterior.
Fica por resolver o problema da passagem do primeiro paradigma para o segundo que é imposta pelas metas de descarbonização para combate às alterações climáticas.
A proposta é que seja feita através da eletrificação de toda a atividade, nomeadamente dos transportes terrestres.
Mas a transição energética feita por esta via ainda não resolveu vários problemas, como seja o facto de algumas destas energias serem intermitentes e como tal de produção irregular.
Para enfrentar estes desafios aperfeiçoam-se os conceitos de armazenagem, por exemplo através de baterias ou da bombagem nas centrais hidroelétricas em que isso é possível: a água produz eletricidade nas turbinas e alternadores, quando o preço desta é elevado e é bombeada para montante da barragem, quando o preço é baixo, podendo posteriormente ser turbinada outra vez. O sistema necessita dum contraembalse para impedir o curso normal do rio. No fundo é uma operação económica e não só técnica ou ambiental.
O recurso a combustíveis alternativos também é uma solução, como o hidrogénio, a amónia ou os combustíveis sintéticos. Podem-se utilizar os equipamentos dos atuais combustíveis fósseis, com pequenas alterações e ficamos assim com o que designamos de “combustíveis verdes”.
É fácil? Nem pensar. A principal questão refere-se ao do preço. A transição custa muito, muito dinheiro. Dinheiro que não chega para suprir necessidades básicas, em muitos casos, como a saúde, habitação, educação ou mesmo a alimentação. Depois são tecnologias que na sua exploração necessitam de pouco pessoal, fomentando o desemprego. É claro que há países que podem lidar melhor com estas dificuldades do que outros. Pode-se exigir a transição em África, na América Central ou em muitos países da Ásia? Todos acordaram que sim, através de tratados internacionais, mas como podem cumprir?
E em Portugal? Não sei se é uma prioridade, para o nosso nível de consumo e de poluição.
O salto tecnológico.
Ninguém pode dizer que não é admirável a tecnologia utilizada nalguns empreendimentos de energias renováveis.
Veja-se o caso das eólicas flutuantes que evitam a ligação rígida das turbinas ao fundo do mar e desfrutam de mais vento que em terra, apesar de condicionarem a pesca: aqui, aqui e aqui.
Também no solar, para aproveitar as condições mais favoráveis, estão a ser instaladas soluções flutuantes nas albufeiras das barragens.
Exemplifico com o caso do Alqueva, aqui e aqui
Mesmo assim, só se consegue produção de eletricidade, em média, 1500 horas por ano, ou seja, menos de 20% do tempo total. Uma bateria, ajuda a regularizar a produção.
Conclusão.
Claro que o interesse destas instalações é em boa parte de demonstração, pois não é possível os consumidores ficarem dependente de energia cuja produção não coincide com as horas de utilização. Talvez por isso, um parque fotovoltaico a instalar na barragem do Castelo de Bode, no âmbito das compensações pelo encerramento da Central a Carvão do Pego, ficou sem interessados no empreendimento.
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