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Carvão & Energia: 4 Coisas da história

4 Coisas da história

Introdução.

O carvão, como forma de energia primária para a produção de eletricidade, deixou de ser utilizado, no nosso país, com o encerramento das centrais térmicas de Sines e do Pego.

Estas instalações deixaram de funcionar, a primeira em dezembro de 2020 e a segunda em novembro de 2021.

Até chegarmos a estas datas foi percorrido um longo período em que esta forma de energia foi decisiva para o progresso do País.

Utilizações.

Em Portugal, a industrialização desencadeou um processo em que as necessidades energéticas e de força motriz das fábricas eram supridas de duas maneiras:

– Energia hídrica quando dispunham de um curso de água com caudal suficiente;

– Energia térmica com o carvão como combustível, em alternativa ou complementarmente.

Os comboios, com as suas máquinas a vapor eram também consumidores de carvão. Recomendo vivamente uma visita ao Museu Ferroviário do Entroncamento, com belos exemplares destas locomotivas.

O recurso.

Preferencialmente recorria-se ao carvão nacional que possuía jazidas em várias áreas do país, portanto com uma distribuição geográfica bastante favorável, apesar de ter baixa riqueza calorífica.

O carvão de Rio Maior teve um contributo importante e foi fundamental nalguns períodos de escassez do carvão importado, mais rico calorificamente.

As minas de carvão das serras de Aires e dos Candeeiros abasteceram muitas pequenas centrais térmicas do centro do país.

Nas minas da Bezerra, que alimentavam a central de Porto de Mós (1930-1950), durante a sua exploração, fazia-se a distinção entre os carvões de melhor qualidade, usados na indústria cimenteira, fábrica de Pataias e os mais pobres que se destinavam à produção de eletricidade. O edifício da central foi recentemente recuperado para atividades culturais.

Refira-se ainda que a primeira grande central termoelétrica, da Tapada do Outeiro, 1958-2004, 3×46,5 MW, foi construída também para aproveitar os recursos carboníferos nacionais, das minas de S. Pedro da Cova e do Pejão. O baixo poder calorífico e alto teor de cinzas, obrigava ao apoio à combustão, feito com fuelóleo.

O carvão como recurso energético endógeno, foi usado até ao ano de 1994.

A eletricidade.

Desde muito cedo, finais do século XIX e início do século XX, que Portugal começou a recorrer à eletricidade como forma de energia final.

Na produção de eletricidade, em 1927 existiam 255 pequenas centrais térmicas associadas à indústria, nomeadamente têxtil, papel, cerâmica, cimenteira e siderúrgica e também para assegurar a iluminação pública, consumos residenciais e de transportes.

Rio Maior tinha em serviço uma central para apoio das próprias atividades mineiras.

O setor passou de uma situação inicial de produção descentralizada, junto dos consumos, para a introdução de centrais cada vez maiores, para alimentar a rede elétrica nacional.

Têm valor histórico as centrais do Freixo (Porto), Central Tejo (hoje o Museu da Eletricidade, em Lisboa), a referida central de Porto de Mós ou a da Cachofarra, em Setúbal. Qualquer uma delas ainda é visível, em situações de melhor ou pior conservação.

A evolução dos equipamentos foi notável. Por exemplo, as torres de refrigeração usadas para obter as temperaturas adequadas da fonte fria do ciclo termodinâmico, passaram de estruturas de tijolo a grandes permutadores de betão.

O desenvolvimento da rede elétrica nacional e o aparecimento dos grandes aproveitamentos hidrelétricos, a partir dos anos 40, veio pôr fim à exploração de muitos destes centros produtores dispersos e de reduzida potência. Mas tinham sido fundamentais para a criação da rede de clientes a ser abastecida pelo sistema elétrico e que esteve na base do seu desenvolvimento.

Conclusão

O carvão como combustível para a produção de eletricidade volta a ser considerado, anos mais tarde, como alternativa à introdução de novas centrais a fuelóleo.

Com efeito, construídas nos anos 60, 70 e 80 do sec. XX, as centrais do Carregado, Barreiro e Setúbal vieram a enfrentar os efeitos dos choques petrolíferos.

O carvão, importado, assume assim uma garantia da segurança do abastecimento. Nos anos 80 foram construídas as Centrais de Sines e do Pego, atrás referidas.

A introdução do Gás Natural levou ao aparecimento das centrais de ciclo combinado, a partir dos anos 90 e no início do século XXI.

Para além da promoção dum plano hidroelétrico, ocorreu uma aposta forte na energia eólica e solar fotovoltaica, que, curiosamente, constituem uma nova onda de produção descentralizada.

Chega-se assim à atual configuração do sistema elétrico nacional, que tenta minimizar a produção de origem térmica, invocando preocupações ambientais.

N.R. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações da Direção do RMJornal, mas não é por isso que deixam de ser publicados

Fernando Vieira
Fernando Caldas Vieira, nascido em 1957, casado, de Tomar. Engenheiro eletrotécnico, licenciado e mestre pelo IST. Mestre em política, economia e planeamento da energia, pelo ISEG. Trabalhou no setor de produção de eletricidade, nomeadamente em centrais termoelétricas. Presidiu à ECOBA, Associação Europeia dos Produtos da Combustão do Carvão e ao grupo de trabalho de resíduos da Eureletric. Dedica-se à prestação de serviços de consultoria a empresas no campo da eletricidade, da energia e do ambiente.

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