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Cinzas em Aterro

Carvão & Energia: 18- CINZAS DE FUNDO.

Mais Cinzas

Quem tem lareira em casa assume a função, muitas vezes tirada à sorte, de despejar e limpar o cinzeiro. É a parte inferior, com uma grelha e uma gaveta, onde se acumula tudo o que é mais pesado e não sai na chaminé.

Nas grandes caldeiras industriais, os fumos transportam as cinzas mais leves que são capturadas antes de sair pela chaminé. As maiores partículas também caem no cinzeiro da caldeira, daí a designação de cinzas de fundo. Algumas ficam agarradas às paredes, as escórias, e são recolhidas posteriormente também na parte de baixo do gerador de vapor.

Veja estes equipamentos industriais como exemplo!

Estes tipos de cinzas têm, portanto, uma maior dimensão, são mais rugosas, menos pozolânicas, mas igualmente valorizáveis.

Em caso de necessidade, depois de classificadas (com passagem ao peneiro), podem ser moídas e trituradas. Conforme a sua dimensão, podem ser adicionadas às cinzas volantes, mas preferencialmente substituem os materiais geotécnicos, nomeadamente as areias, a brita e o “tout-venant”.

A normalização

Quando as cinzas de fundo são misturadas com as cinzas volantes, o produto assim obtido deixa de dar cumprimento às normas do cimento e do betão pois elas estipulam também a forma como são obtidas no processo industrial.

Desde 2006 que em Portugal as cinzas volantes possuem a marca CE, o que permite que, em caso de utilização transfronteiriça, no espaço europeu, a certificação seja válida. Isto é, as cinzas portuguesas podiam ser vendidas e aplicadas em qualquer país europeu.

Ora, as cinzas de fundo extraídas em cinzeiro seco, tinham todas as condições para ser utilizadas para os mesmos fins das cinzas volantes, se misturadas com elas, até ao máximo de 10% em massa. Para isso tiveram de ser sujeitas a uma aprovação técnica, válida internacionalmente, European Technical Approval (ETA).

Em Portugal foi desenvolvido um processo que envolveu o produtor e teve a participação dos investigadores do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

No caso de Sines, a ETA foi emitida em 2010. Foi um processo técnico e administrativo que, pelo seu pioneirismo, mereceu o apoio das associações europeias do setor e permitiu outras empresas seguissem o mesmo caminho.

Estradas

Como dissemos atrás, outra aplicação destes produtos é na construção rodoviária. É um processo que exige a demonstração da sua viabilidade. Também com o apoio técnico do LNEC fizeram-se troços experimentais que envolveram as centrais de Sines e anteriormente da Tapada do Outeiro.

A aplicação deste material foi testada nas camadas de base e sub-base das estradas, com bom desempenho após sujeita a intensas solicitações.

Os resultados obtidos levaram a que as entidades oficiais, a Junta Autónoma das Estradas (JAE), agora Infraestruturas de Portugal (IP), colocassem nos cadernos de encargos dos concursos a possibilidade da sua utilização.

Foi assim que na estrada do IP8-A26 entre Sines e Santiago do Cacém, se usaram cerca de 45 000 ton de cinzas de fundo.

Aplicação de Cinzas na Autoestrada A26

Economia e ambiente

A partir do momento em que as cinzas de fundo foram exportadas para outros países europeus, tornaram-se um fator de melhoria da nossa balança de pagamentos, tal como as cinzas volantes.

A substituição dos materiais tradicionais enfrenta um desafio, que é o do custo do transporte para o local da obra. Não obstante existe um raio de influência em que esta solução é vantajosa.

Mas acima de tudo, o motivo pelo qual os empresários demonstraram o seu interesse foi o da poupança na exploração das pedreiras, diferindo o seu esgotamento e prolongando o prazo em que poderão obter receitas.

Neste caso é também um fator de boas práticas ambientais e sustentabilidade.

Nesta altura, nas antigas centrais a carvão, no seu processo de desmantelamento, está incluída a reutilização dos materiais depositados em aterro. Apesar dos meios que tal envolve, os interessados apareceram e a limpeza de terrenos não vai ser uma dificuldade inultrapassável.

N.R. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações da Direção do RMJornal, mas não é por isso que deixam de ser publicados

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Fernando Vieira
Fernando Caldas Vieira, nascido em 1957, casado, de Tomar. Engenheiro eletrotécnico, licenciado e mestre pelo IST. Mestre em política, economia e planeamento da energia, pelo ISEG. Trabalhou no setor de produção de eletricidade, nomeadamente em centrais termoelétricas. Presidiu à ECOBA, Associação Europeia dos Produtos da Combustão do Carvão e ao grupo de trabalho de resíduos da Eureletric. Dedica-se à prestação de serviços de consultoria a empresas no campo da eletricidade, da energia e do ambiente.

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