Antipoluição

Por: Fernando Caldas Vieira

Resumindo

São conhecidos os principais elementos poluidores atmosféricos das centrais a carvão:
Partículas, dióxido de enxofre, óxidos de azoto e o sempre presente dióxido de carbono.
Existem, no entanto, sistemas tecnológicos que podem minimizar estas emissões.
Proponho uma revisão destes dispositivos.

Tecnologia

Numa central termoelétrica o gerador de vapor, ou a caldeira, em linguagem mais
corrente, é um dos elementos fundamentais.
Através da queima do combustível, carvão, neste caso, transmite calor à água que circula
em painéis, transformando-a em vapor. Este vai sofrer uma expansão ao fazer rodar uma
turbina que por sua vez permite gerar eletricidade através dum gerador acoplado.
A caldeira tem assim dois circuitos principais, o de água e vapor e o de ar e fumos.
É neste circuito de fumos que é necessário atuar para minimizar os efeitos nocivos para o
ambiente que atrás referimos.
Este objetivo é conseguido através da instalação de um conjunto de dispositivos que
retêm os poluentes evitando o efeito de contaminação através dos fumos que saem pela
chaminé.
Numa instalação moderna, é assim possível encontrar, conforme o diagrama ilustrativo:

Precipitadores eletrostáticos

Lembram-se quando nas aulas de Física se esfregava uma caneta na manga da camisola e
se conseguia atrair um bocadinho de papel?
Experiências de eletricidade ESTÁTICA (youtube.com)
O sistema de retenção de partículas numa central térmica é baseado no mesmo princípio:
as partículas em suspensão são atraídas por um poderoso campo elétrico e acumulam-se
nos elétrodos. Periodicamente, um sistema de martelos, provoca o seu despreendimento
e são recolhidas por um sistema pneumático que as encaminham para silos de
armazenamento.
Designam-se cinzas volantes, as cinzas capturadas por este sistema. A eficiência da recolha
é superior a 99,5%.

Cinzeiros

As cinzas contidas no próprio carvão podem chegar aos 10%. A qualidade da queima, a
quantidade de ar na mistura com o combustível, determina o aparecimento de mais ou
menos partículas. No corpo principal dos geradores de vapor, formam-se dois tipos de
cinzas: um que fica agarrado às paredes da caldeira, conhecido por escória ou “slag” e o
outro que adquire dimensões razoáveis e então por gravidade acaba por se precipitar no
fundo da fornalha: designa-se de cinza de fundo.
Se a escória é removida durante as grandes intervenções de manutenção, as cinzas de
fundo são retiradas em contínuo. A introdução de cinzeiros secos constituiu um grande
benefício ambiental, evitando o consumo de água, tratamento de efluentes e permitindo
uma exploração mais otimizada, consumindo menos energia relativamente aos sistemas
de cinzeiros húmidos (como se fosse uma piscina no fundo da caldeira). Ver imagem.

Desnitrificação

O sistema de desnitrificação faz a lavagem dos gases com amónia, retirando os óxidos de
azoto (NOx). Estes, além de estarem na base da produção de ácido azótico, também
responsável pelas chuvas ácidas, só por si provocam danos na saúde humana, a nível do
sistema respiratório.
Nas centrais nacionais, a redução de emissões foi conseguida inicialmente com o recurso a
queimadores de desenho otimizado, “Low NOx”, complementados com um sistema de
ventiladores de “Boosted Over Fire Air” (BOFA).
Posteriormente, o aparecimento de novas diretivas europeias, impuseram emissões mais
baixas, o que levou à utilização de tecnologia de redução catalítica seletiva (SCR –
Selective Catalytic Reduction).
Neste processo, a redução dos óxidos de azoto para azoto (N 2 ) e água (H 2 O), é conseguida
pela reação do NOx e amónia (NH 3 ) na forma aquosa, num leito catalisador.
Devido à situação ótima da temperatura dos gases, o catalisador fica instalado a montante
do aquecedor de ar regenerativo e do precipitador electroestático.

Dessulfuração

O enxofre contido no carvão, durante a combustão reage com o oxigénio, dando origem
ao dióxido de enxofre que, em contacto com a água, produz ácido sulfúrico, altamente
corrosivo e responsável por danos, nomeadamente nas zonas agrícolas influenciadas pelas
centrais térmicas.
O sistema de dessulfuração, adicionando uma solução de calcário, leva à obtenção de
gesso, evitando assim a saída do SO 2 pela chaminé.
Para uma maior eficácia destes equipamentos é conveniente utilizar calcário da melhor
qualidade e com elevado nível de pureza. Uma das fontes de abastecimento, em Portugal,
foi a empresa de Rio Maior, Sibelco.
https://omirante.pt/sociedade/2023-11-30-Sibelco-comemora-50-anos-de-atividade-sustentavel-em-Portugal-da28eb0d

De notar que todos estes equipamentos foram instalados ou revitalizados já depois das
centrais estarem em serviço, por volta do ano de 2008. Ver foto com o detalhe dos
trabalhos.

A paragem das centrais a carvão em 2020 e 2021, levou também à desativação destes
equipamentos que se encontravam habilitados a funcionar durante muito mais anos,
cumprindo todas normativas associadas.

Chaminé

Sempres presentes no horizonte das centrais, permitem a dispersão dos poluentes, o que
se consegue com o seu grande comprimento – superiores a 200 m em Sines e no Pego.
Na realidade, os níveis de concentração nos arredores das centrais, são menores. No
entanto, em valores absolutos, não se pode dizer que reduzem a poluição, simplesmente
a distribuem por uma área maior. Deve ser tido em conta a orientação dos ventos
dominantes.
O efeito das chaminés tem, portanto, de ser complementado pelos outros equipamentos,
que aqui referimos.

Conclusão

Qualquer leitor mais atento, neste ponto, repara – e o resto? Com razão. Faltam dois
tópicos associados a este texto:

• Descarbonização, ou seja, a redução ou eliminação das emissões de CO 2 .
• Produtos associados ao funcionamento dos equipamentos antipoluição. Para se resolver
  um problema, criou-se o problema da eliminação das cinzas e do gesso produzidos nos
  sistemas ambientais.
  Estas duas questões serão o tema dos próximos textos.

N.R. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações da Direção do RMJornal, mas não é por isso que deixam de ser publicados