O Planeamento
Por: Fernando Caldas Vieira
Introdução.
Antes de abordar a última central a carvão no nosso país, a Central do Pego, quero deixar um desafio aos leitores:
Antes de abordar a última central a carvão no nosso país, a Central do Pego, quero deixar um desafio aos leitores:
– Onde se deve construir uma central termoelétrica?
É um exercício de planeamento da rede elétrica, atualmente a cargo da REN (Redes Energéticas Nacionais) e que não é de fácil resolução. Implica questões de trânsito de energia, saturação de redes, interligações com a distribuição e com Espanha e resolução de problemas mais complexos como o comportamento em caso de curto-circuito, a avaria mais grave que tem de ser prevista.
Critérios.
Claro que estes estudos não são exclusivos das centrais térmicas.
Se for hídrica é uma questão de escolher o rio e a zona, o mais a jusante possível, para aumentar a capacidade de afluência e de encaixe. É bom que se possa fazer um aproveitamento em cascata, como no Douro em que a mesma água é turbinada em várias centrais hidroelétricas.
Os estudos geológicos são fundamentais pois as margens têm de servir de suporte da estrutura da barragem.
Quando é possível, uma outra barragem logo a seguir, permite um contraembalse para se fazer a bombagem da água a jusante, colocando-a novamente para ser turbinada. É uma forma de se armazenar eletricidade, tirando partido da arbitragem de preços: Bombeia-se com o preço baixo, turbina-se com os preços mais altos. São sistemas que estão, por exemplo, na Aguieira com a Raiva e no Alqueva, com Pedrógão.
Tenta-se também aplicar o conceito de fins múltiplos: Não é só o negócio da eletricidade. São também outras funções como a regularização de cheias, ou os abastecimentos de água às populações, como em Castelo de Bode que serve Lisboa, ou a navegabilidade e o turismo, como no Douro, com as suas eclusas ou o referido Alqueva com os aproveitamentos de rega.
Pior está a ser a instalação de outras renováveis, como as centrais eólicas e os parques fotovoltaicos. Invocando o estatuto de PIN (Projeto de Potencial Interesse Nacional), qualquer lugar serve, mesmo que seja preciso desmatar, arrancar árvores, destruir culturas agrícolas ou comprometer solos para utilizações futuras.
Central da Cerca, a maior solar da EDP na Europa, entra em operação – ECO (sapo.pt)
Até mesmo chacinar a fauna, como aconteceu na Quinta da Torre Bela.
Torre Bela. Abate de animais para construção de central fotovoltaica começou há meses – Expresso
Otimização e restrições.
As centrais a carvão são um bom exemplo da tomada de decisão. A primeira questão a resolver é se deve ficar junto à mina ou perto ao consumo. Esta é fácil. É mais barato transportar eletricidade do que combustível. Conclusão: é preferível instalar centrais “à boca da mina” e transmitir a eletricidade para os locais de consumo. Estou certo de que se o recurso carbonífero de Rio Maior ainda fosse significativo, teríamos uma Central instalada no local. Chegou mesmo a ser considerada.
No entanto as linhas de eletricidade também têm perdas, designadamente pelo calor dissipado nos condutores, o efeito de Joule. É pois, um compromisso de soluções.
A maior condicionante, sem dúvida que é a existência de água de refrigeração para a fonte fria. Devem estar perto do mar ou de um rio com caudal suficiente. Aparecem assim as centrais no Sado, no Tejo, no Douro e na costa: Sines e Figueira da Foz.
Manipulação.
Existe um 4º critério para se instalar uma Central e que não é desprezável: a aceitação da população.
As pessoas de uma localidade poderão aceitar melhor ou pior uma instalação destas conforme o balanço que façam.
– Por um lado o desenvolvimento económico, a dinâmica da instalação de novas famílias com o efeito que isso tem na habitação, comércio e serviços públicos.
– Por outro lado o receio do impacto na qualidade de vida: as indústrias trazem inevitavelmente consequências para o ambiente e riscos de poluição.
Forças com desígnios que não percebemos ou ansiando visibilidade e protagonismo, encabeçam a mobilização das populações pelo medo. Depois de Ferrel, relativamente à Central Nuclear, foi adotada a mesma estratégia em relação à nova Central a carvão, prevista para Viana do Castelo. Também com sucesso. Há vários casos na história recente: A prospeção de petróleo na costa alentejana e do gás natural em Alcobaça. Para já não falar do lítio de Trás-os-Montes.
Jornal de Leiria – O dia em que os sinos de Ferrel dobraram contra a energia nuclear
Central térmica de Viana do Castelo – RTP Arquivos
Ambientalistas temem repetição de derrames na costa alentejana (rtp.pt)
Compensações
Quando se avançou com o Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH), os autarcas mostraram-se muito reticentes. Era do género:
Autarca: “Uma barragem aqui, nem pela alma da minha avozinha, que Deus lá tem.”
Promotor: “E um quartel para os bombeiros?”
Autarca: “Podem incluir uma ambulância?”
Pois este processo é um misto de mitigação, com medidas técnicas e de projeto para diminuir os impactos ambientais e de contrapartidas para benefício direto das populações.
E assim se ultrapassa toda a via-sacra da obtenção dos licenciamentos ambientais.
Espero que tenham ficado entusiasmados com esta descrição porque no próximo texto vou invocar a Central do Pego. Aqui, quase tudo foi ao contrário do que acabei de referir.
Critérios.
Claro que estes estudos não são exclusivos das centrais térmicas.
Se for hídrica é uma questão de escolher o rio e a zona, o mais a jusante possível, para aumentar a capacidade de afluência e de encaixe. É bom que se possa fazer um aproveitamento em cascata, como no Douro em que a mesma água é turbinada em várias centrais hidroelétricas.
Os estudos geológicos são fundamentais pois as margens têm de servir de suporte da estrutura da barragem.
Quando é possível, uma outra barragem logo a seguir, permite um contraembalse para se fazer a bombagem da água a jusante, colocando-a novamente para ser turbinada. É uma forma de se armazenar eletricidade, tirando partido da arbitragem de preços: Bombeia-se com o preço baixo, turbina-se com os preços mais altos. São sistemas que estão, por exemplo, na Aguieira com a Raiva e no Alqueva, com Pedrógão.
Tenta-se também aplicar o conceito de fins múltiplos: Não é só o negócio da eletricidade. São também outras funções como a regularização de cheias, ou os abastecimentos de água às populações, como em Castelo de Bode que serve Lisboa, ou a navegabilidade e o turismo, como no Douro, com as suas eclusas ou o referido Alqueva com os aproveitamentos de rega.
Pior está a ser a instalação de outras renováveis, como as centrais eólicas e os parques fotovoltaicos. Invocando o estatuto de PIN (Projeto de Potencial Interesse Nacional), qualquer lugar serve, mesmo que seja preciso desmatar, arrancar árvores, destruir culturas agrícolas ou comprometer solos para utilizações futuras.
Central da Cerca, a maior solar da EDP na Europa, entra em operação – ECO (sapo.pt)
Até mesmo chacinar a fauna, como aconteceu na Quinta da Torre Bela: Torre Bela. Abate de animais para construção de central fotovoltaica começou há meses – Expresso
Otimização e restrições.
As centrais a carvão são um bom exemplo da tomada de decisão. A primeira questão a resolver é se deve ficar junto à mina ou perto ao consumo. Esta é fácil. É mais barato transportar eletricidade do que combustível. Conclusão: é preferível instalar centrais “à boca da mina” e transmitir a eletricidade para os locais de consumo. Estou certo de que se o recurso carbonífero de Rio Maior ainda fosse significativo, teríamos uma Central instalada no local. Chegou mesmo a ser considerada.
No entanto as linhas de eletricidade também têm perdas, designadamente pelo calor dissipado nos condutores, o efeito de Joule. É pois, um compromisso de soluções.
A maior condicionante, sem dúvida que é a existência de água de refrigeração para a fonte fria. Devem estar perto do mar ou de um rio com caudal suficiente. Aparecem assim as centrais no Sado, no Tejo, no Douro e na costa: Sines e Figueira da Foz.
Manipulação.
Existe um 4º critério para se instalar uma Central e que não é desprezável: a aceitação da população.
As pessoas de uma localidade poderão aceitar melhor ou pior uma instalação destas conforme o balanço que façam.
– Por um lado o desenvolvimento económico, a dinâmica da instalação de novas famílias com o efeito que isso tem na habitação, comércio e serviços públicos.
– Por outro lado o receio do impacto na qualidade de vida: as indústrias trazem inevitavelmente consequências para o ambiente e riscos de poluição.
Forças com desígnios que não percebemos ou ansiando visibilidade e protagonismo, encabeçam a mobilização das populações pelo medo. Depois de Ferrel, relativamente à Central Nuclear, foi adotada a mesma estratégia em relação à nova Central a carvão, prevista para Viana do Castelo. Também com sucesso. Há vários casos na história recente: A prospeção de petróleo na costa alentejana e do gás natural em Alcobaça. Para já não falar do lítio de Trás-os-Montes.
Jornal de Leiria – O dia em que os sinos de Ferrel dobraram contra a energia nuclear
Central térmica de Viana do Castelo – RTP Arquivos
Ambientalistas temem repetição de derrames na costa alentejana (rtp.pt)
Compensações
Quando se avançou com o Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH), os autarcas mostraram-se muito reticentes. Era do género:
Autarca: “Uma barragem aqui, nem pela alma da minha avozinha, que Deus lá tem.”
Promotor: “E um quartel para os bombeiros?”
Autarca: “Podem incluir uma ambulância?”
Pois este processo é um misto de mitigação, com medidas técnicas e de projeto para diminuir os impactos ambientais e de contrapartidas para benefício direto das populações.
E assim se ultrapassa toda a via-sacra da obtenção dos licenciamentos ambientais.
Espero que tenham ficado entusiasmados com esta descrição porque no próximo texto vou invocar a Central do Pego. Aqui, quase tudo foi ao contrário do que acabei de referir.
N.R. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações da Direção do RMJornal, mas não é por isso que deixam de ser publicados