Por: João Teodoro Miguel
BALANÇO DO 25 DE ABRIL
Passados alguns dias das comemorações do 25 de abril, faço uma breve análise política sobre essa data. Na verdade, o 25 de abril de 1974 trouxe-nos uma mudança política do regime que então vigorava. Passámos de um regime autocrata e conservador a uma democracia representativa e livre. Esta mudança, abriu o país ao mundo, dando-nos a esperança de termos uma vida em sociedade melhor e mais igualitária.
Mas, é legitimo questionarmos o seguinte: passados 49 anos, as promessas que nos fizeram estão a ser cumpridas? Num artigo publicado pelo meu amigo João de Almeida Santos, ele refere o seguinte: “No essencial, sim. Basta comparar os dois mundos, mesmo subtraindo o natural desenvolvimento que o tempo, só por si, gera. A diferença vê-se bem se olharmos, no arco de umas dezenas de anos, para as aldeias do interior. E, todavia, a aceleração do tempo histórico está a exigir respostas que parece que o país não está a conhecer, mesmo subtraindo também os problemas internacionais que não pudemos controlar”. Diz ainda o seguinte: “creio que o primeiro passo, talvez mesmo o mais importante, deva ser o de reconhecer humildemente o que somos e a nossa própria dimensão, sem nos enganarmos, como vai acontecendo, com um discurso sobranceiro, como se ocupássemos no mundo um lugar que de facto não ocupamos. Recomeçar a partir daquele que é o nosso lugar talvez seja verdadeiramente o que de fundamental há a fazer para conquistarmos um futuro mais sólido e avançado”.
Certamente, o essencial para credibilizarmos a política, é denunciarmos aquela política que se circunscreve a conquistar o poder para se perpetuar. Quanto às promessas cumpridas ou não cumpridas da nossa democracia, essa questão, deverá ser dirigida aos protagonistas eleitos, estejam eles na Presidência da República, no governo ou na oposição.
Portugal e, também, alguns países que integram os 27, enfrentam a necessidade de novos desafios políticos. Os populismos de esquerda e de direita, são a grande ameaça há democracia. Não podemos dar como adquirida a democracia, devemos sim, estar sempre atentos a tudo o que a possa ameaçar.
Vivemos atualmente no nosso país, momentos de incerteza política. Portugal precisa que os partidos políticos, nos vários ramos ideológicos, sejam capazes de se entender para que o interesse nacional seja salvaguardado, proporcionando assim, uma maior clareza nas alternativas governativas. Mas, infelizmente, deparamo-nos sim, com a demagogia, a propaganda populista que se traduz numa arma contra o Estado de Direito e contra a democracia.
Para cumprir as promessas de abril, tem de se combater o populismo, a desinformação, as desigualdades sociais e reduzir a pobreza. Olhar mais para o interior do país, criando mais desenvolvimento. O país precisa de criar riqueza, não apenas no litoral, o interior precisa de ser olhado com atenção. Um país que não crie riqueza de uma forma transversal, é um país desigual que não cria uma sociedade justa.
Ainda, trazendo a este artigo, mais um contributo do meu amigo, João de Almeida Santos, que sintetiza de uma forma clara as mudanças políticas em curso. “E a primeira observação que me parece dever avançar é a que resulta do reconhecimento das profundas mudanças que estão a acontecer nas sociedades contemporâneas e, consequentemente, da pergunta que se impõe: está o PS a mover-se tendo realmente em conta estas mudanças? Temo que a minha resposta não possa ser inteiramente positiva. Não me parece que o PS esteja hoje a responder com criatividade, eficácia e empenho prospectivo aos desafios que estão aí à nossa frente. E se não o fizer enquanto partido, dificilmente o poderá fazer enquanto governo, por razões que são fáceis de compreender. Enquanto partido, sofre, em geral, as dificuldades que todos os partidos socialistas e sociais-democratas estão a sentir. Mais, sofre, em geral, as dificuldades que os partidos do chamado establishment, os da alternância democrática, os do centro-esquerda e do centro-direita, estão a sofrer e que se estão a traduzir na progressiva fragmentação dos sistemas de partidos. Esta fragmentação já está em curso também em Portugal”.
Este último governo de maioria absoluta, que nos traz quase diariamente casos e casinhos, muitos deles com gravidade para levar à sua dissolução. No meu modesto entender, todos estes problemas, são fruto da má qualidade da maioria dos escolhidos para a esfera governativa. Aliás, também na Assembleia da República, os deputados eleitos, na sua grande maioria não possuem a qualidade desejada para estarem em representação dos cidadãos no Parlamento.
Muita gente coloca a seguinte questão: porque será que o Presidente Marcelo, não dissolve o parlamento? Como é referido anteriormente, os partidos da alternância democrática, do centro-esquerda e do centro-direita, estão em progressiva fragmentação, casos do PS e do PSD. Assim, o Presidente Marcelo, corre o risco e a responsabilidade de o próximo governo a sair de novas eleições não ter a estabilidade tão necessária ao País.
Ter em atenção a democracia, é salvaguardar a liberdade de abril.
João Teodoro Miguel