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Atípico e Desproporcional

            Anda atento/a às últimas notícias relativas às greves dos professores? Conhece, então, a expressão que dá título a esta reflexão. Realmente, o Sr. Ministro é muito limitado. Se deu a entender, de forma indireta, que os professores, profissionais da educação, pais e alunos, que acompanham a luta docente, podem ser considerados arruaceiros, permita-me que lhe diga o seguinte: queria o Sr., pelo menos uma vez na vida, transmitir conhecimento a algum dos seus alunos pela conduta tão honesta, humilde e ponderada que os nossos professores têm optado. Uma reivindicação que consegue unir várias áreas de competência in loco. Não é o Sr. que gosta tanto do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória? Aqui tem a simbiose perfeita. Veja lá que até conseguem incluir a Consciência e domínio de corpo. Se os jovens apoiarem os seus docentes, até realizam umas atividades motoras…  

            Lá no fundo, tenho pena da sua posição – a sua realidade é próxima daquela que move este «mar de gente». As condições do Sr., enquanto Professor Catedrático, são tão precárias…digamos que é apenas a categoria máxima do Ensino Superior. Eu convidava-o a substituir um professor de Português, a título de exemplo, dado que é a sua área de formação. Que experiência tão melhor que a sua! Aliás, se ficar a 200 km de casa, com um contrato cheio de coisas boas…visto que é bom rapaz, com sorte é amigo do Diretor e tem uma avaliação Excelente, o que pode ajudar em qualquer coisa.

            Melhor que isto, só mesmo a recuperação das aprendizagens. Não volte a dizer, publicamente, que os jovens estão a ficar prejudicados! Não percebe que isso só altera a opinião pública? Sou aluno e confesso que só tenho aprendido! É tudo uma questão de articulação curricular. Até entra a Cidadania e Desenvolvimento, com os domínios Direitos Humanos (do 1.ºGrupo), Instituições e participação democrática (do 2.ºGrupo) e Mundo do Trabalho (do 3.ºGrupo).

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            Sei que poderei ser criticado pela excessiva utilização do advérbio «não». Mas, já agora, interprete lá o valor expressivo do mesmo neste contexto. Não se esqueça do carácter disfórico, mordaz e/ou imperativo que o mesmo carrega. Ajudou a dica? Claro que sim! Não duvido das suas capacidades intelectuais!  

            Passando para um caso, daqueles muito peculiares, em que o próprio umbigo é o único alcance, deixo uma história. Uma mãezinha, que deve apoiar piamente o Sr. Ministro e achar que ser professor é profissão de luxo, dizia em entrevista que estas greves «afetam as aprendizagens, a socialização, as rotinas…». Não se preocupe, que não é pelas reivindicações que a educação dos gaiatos fica comprometida. Explique aos seus filhos o motivo da greve e ensine-os a lutar pelos seus objetivos ao longo da vida. Mais, quando os filhos chegarem a casa, retire-lhes os aparelhos eletrónicos da vista e proporcione-lhes verdadeiros momentos de socialização humana. Para ajudar o processo, imponha-lhes regras e não permita que os mesmos se deitem às tantas para estarem a tentar passar de nível no jogo da consola, para que, no dia a seguir à greve, eles não vão para as aulas dormir. É tão fácil julgar as lutas dos outros, quando não percebemos os impactos que estas poderão ter no futuro dos seus filhos.

            Isto, para concluir, que está visto que fazer conferências de última hora não é o forte do Sr. João Costa. Não querendo aprofundar muito, é caso para dizer que são atípicas, tendo em conta a fraqueza dos seus argumentos e, claro, desproporcionais, quer no espaço, quer no tempo. Digamos que a sua realidade é longínqua, muito utópica. Primeiro, localize-se. Depois, pense. Por fim, prove que é o Ministro da Educação!

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N. R. As crónicas correspondem ao expressar de vontade do autor, que não têm de ser coincidentes com a direcção do jornal.

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António Coito
António Coito tem 18 anos e frequenta o 12.º ano de escolaridade. É fascinado pelo mundo da leitura, escrita e comunicação. Participou no Projeto #EstudoEmCasa, da RTP e DGE, em articulação com os professores do Agrupamento de Escolas Fernando Casimiro Pereira da Silva (2019/2020). Atualmente, é Secretário da Assembleia Geral da Associação ATUAAÇÃO e Presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Rio Maior. No próximo ano, espera ingressar no Ensino Superior, no curso de Português, na FLUC. No seu entender, ‘’não haverá história capaz de descrever as suas viagens interiores’’.