ÁRVORES
Há uns anos, fui alertado para umas provetas oliveiras, situadas na freguesia de Turquel. Subi para a motorizada do informador, cujo nome não me ocorre agora, e percorremos cerca de um quilómetro até ao local, talvez nem tanto, porque na altura eu recuperava uma casa de campo ali perto. O cicerone calculou a idade das árvores em várias centenas de anos, mas logo ali, à primeira vista, pareceram-me muito mais velhas. Posteriormente, comparando-as com outras oliveiras, tendo em conta o perímetro e a cavidade interna, confirmei que as oliveiras de Turquel eram, de facto, mais longevas.
Entusiasmado com a possibilidade de uma delas ser a oliveira mais antiga do país, com a bonita idade a rondar os 3 mil anos, fui avisando as “autoridades”, nomeadamente a ADEPA, uma associação dedicada ao património turquelense e um elemento da Câmara Municipal de Alcobaça meu conhecido, para a necessidade urgente de as classificar e proteger. Até lhes disse que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tinha um método nada invasivo, único no mundo, de datar a idade das oliveiras. Há poucos anos, infelizmente, foram notícia pelos piores motivos. Fui vê-las, estavam arrancadas e cintadas para serem exportadas para o médio oriente. E o pior de tudo, é que morreram.
Ao que parece, a questão da venda de árvores milenares não é completamente ilegal. Este assunto, aliás, é recorrente noutros países mediterrânicos, e em França, por exemplo, houve um caso em que a única forma que encontraram de proteger determinada oliveira foi a própria população da aldeia comprá-la, ou seja, os habitantes, honrando os seus antepassados, ofereceram o mesmo valor que o importador árabe. A sensatez às vezes sai cara, mas vale a pena.
Muitas, são extraordinárias pela idade, pela beleza, pelo local onde se encontram, pelo simbolismo histórico, pela raridade, etc., mas também existem em Portugal árvores que impressionam simplesmente pela ousadia de quererem chegar ao céu. E de todos os gigantes das nossas florestas, o eucalipto quando solitário, revela-nos uma identidade muito diferente daquela de quando está em grupo. Num eucaliptal, a famigerada mata plantada para fins industriais, densa, escura e cujos troncos parecem fósforos saídos do chão, o eucalipto não é livre e não se agiganta.
Vivemos por esta altura do ano o Equinócio da Primavera; o 21 de março, escolhido internacionalmente – por organismos diferentes -, como o dia para se comemorar a poesia, a árvore e a inclusão, é uma data, selecionada propositadamente pelo equilíbrio entre a luz e a escuridão e, digo eu, pela sensatez e sabedoria da natureza. O eucalipto, enquanto ser vivo, merece-nos respeito, tanto que é das poucas árvores que, quando livre do homem, procura o céu de forma determinada.
Silva Porto, 27 de março de 2023