A ESCASSEZ DO RECURSO ÁGUA
(Nota: estando na agenda do dia o grave problema da escassez de água em Portugal, entre muitos outros países, resolvi, esta semana, trazer o meu primeiro artigo escrito para publicação no Rio Maior Jornal, com pequenas alterações.)
A Água é essencial à vida, mas é também um Bem Económico, o que coloca Desafios à sua Gestão EficienteJoão Teodoro Miguel
As alterações climáticas que vivemos no presente, são um aviso sério e a ter em conta para a implementação de novos comportamentos na gestão dos recursos hídricos.
A nível mundial, em diversas regiões vivem-se momentos de desespero com falta de água. Noutros locais, a pressão sobre a incerteza de se poder abastecer as populações de água leva ao aumento dos preços e, os Estados a tomarem medidas drásticas. Também na agricultura intensiva, a utilização da água sem qualquer controlo, tem levado à desertificação desses territórios.
A água potável, esse capital finito que devemos preservar, dá-nos recursos também limitados, ou pelo menos que se degradam e cuja recuperação tem custos acima da capacidade de muitas populações e governos. Não a podemos separar do solo, da terra que alimenta os quase 8 biliões de humanos, nem da energia necessária a essa produção de alimentos. E a pressão sobre os recursos de água coloca também em risco a nossa segurança alimentar.
Portugal, neste caso, está a ser um péssimo exemplo na agricultura intensiva que se está a praticar e a autorizar. Recebemos de braços abertos os Fundos de Investimento na agricultura (como se fosse bom) e, com a benesse dos investidores ainda receberem Fundos Comunitários. Esses mesmos Fundos de Investimento já esgotaram os recursos hídricos noutros países, fazendo agora o mesmo por cá nas zonas alentejanas e algarvias, com a complacência do Estado!
Outro exemplo também preocupante e, que se passa aqui na nossa região. Nos campos da lezíria na zona de Vila Franca de Xira, já não se consegue produzir melão. Porquê? Sendo a bacia do Tejo um dos nossos maiores aquíferos, o mesmo, está seriamente comprometido em água de qualidade.
A diminuição de caudal de água no rio Tejo tem vindo a aumentar nestas últimas décadas, as captações para a agricultura multiplicam-se, levando ao desaparecimento progressivo da água potável nos aquíferos. A reposição dos mesmos, é feita por água salgada com o efeito das marés. A água fica salobra e a salinização vai aumentando comprometendo vários tipos de cultura nomeadamente o melão. O melão que se vê à venda naquela zona já não é lá produzido, porque não é possível. O tomate, esse, aguenta quase um grama de sal por litro de água, o arroz dois. O melão não aguenta quase nada. Mas, a salinização vai aumentando ao longo do tempo, comprometendo também essas culturas.
Outro aspeto negativo é o do abastecimento público de água.
Há basicamente dois pontos de captação de água para abastecer a área metropolitana de Lisboa: a barragem de Castelo de Bode, no rio Zêzere, e a estação de Valada, no Tejo. A primeira assegura 80 por cento das necessidades, a segunda 20. Porém, a importância estratégica de Valada é maior do que parece: se houver contaminação na fonte principal, e sucedeu em 2017, temeu-se não ser possível que por causa dos incêndios que assolaram a região e provocaram deslizamento de matéria orgânica para a água, não ser exequível o abastecimento público de água, sendo aquela a principal alternativa.
Foi em Valada do Ribatejo, 70 quilómetros a norte de Lisboa, que foram feitas as primeiras captações de água do Tejo para abastecer a cidade. A estação atual só seria construída 23 anos depois. Agora, a salinização já chegou a Valada do Ribatejo e a preocupação vai ampliando.
“Nessa altura ninguém pensava que a salinidade pudesse chegar tão longe“, diz António Carmona Rodrigues antigo presidente da câmara de Lisboa, que é uma das maiores autoridades em Hidrologia em Portugal. E lança o alarme sobre a invasão salina do Tejo.
Assim, se os níveis de salinidade ultrapassassem os piores cenários que se preveem, terá de se construir uma unidade para dessalinizar a água, para a água doce continuar a chegar às torneiras da área metropolitana de Lisboa. Na verdade, a contenção da cunha salina não vai poder esperar muito mais tempo.
Acresce ainda, que no resto do país existem muitas incógnitas no abastecimento público de água, muitos municípios estão dependentes das reservas de algumas barragens e, essas, estão a passar por momentos críticos.
Outro pondo de enorme e crucial relevância, destaca-se pela negativa, a situação verificada no conjunto das entidades de sistemas de titularidade municipal (gestão direta), que detém os níveis mais elevados de perdas e, água não faturada.
No conjunto das entidades gestoras que prestam o serviço de abastecimento de água em baixa, 70,8 % da água não faturada tem origem nas perdas reais, 15,8 % nas perdas aparentes e 13,3 % no consumo autorizado não faturado.
Eu deixo a pergunta! Sobre esta incrível situação de má gestão por parte das entidades gestoras, o que é que a TUTELA tem feito para inverter a situação?
Todas estas debilidades e cenários apresentados, levam-nos a ter consciência de um futuro incerto para este setor tão relevante para a humanidade. A afetação da água em contexto dinâmico e o problema da escassez, leva-nos aos custos da oferta da água aos consumidores, sejam famílias, empresas indústrias ou atividades agrícolas. Nestas últimas, a irracionalidade por parte de algumas empresas no processo de rega das culturas, não tendo em conta a eficiência de utilização controlada. Isto, é um fator negativo que contribui para a escassez. Daí, a importância de uma boa gestão dos recursos hídricos.
Uma boa política da água tem de considerar garantias de futuro, benefícios sociais, finais, positivos. Porém, o seu exercício como fator de desenvolvimento sustentável, não tem merecido a atenção que se impõe, sendo mesmo menorizada e omitida pelos decisores na definição das políticas públicas.
—– por João Teodoro Miguel