6 de Junho de 2023
Apesar do enigmático “D” estar fortemente conotado com o dia 6 de junho de 1944, o Dia D, no qual os Aliados invadiram a Normandia para libertar a Europa, durante a Segunda Guerra Mundial, esse código era uma forma abstrata de, simplesmente, designar o dia do início de qualquer operação militar americana no grande conflito de 1914/18. Algo como “haverá um dia (D), uma hora (H) e um minuto (M) para nos começarmos a mexer, tudo dependerá do andamento da coisa, da chuva e da vontade do Chefe do Estado Maior de plantão”.
Não me lembrei da data por hoje se comemorar o “D” mais famoso de todos, mas por ter visto ontem alguns soldados ucranianos a fazer o gesto a pedir silêncio, como se a contraofensiva já estivesse planeada e marcada e o negócio dependesse do segredo. O dia da operação militar ucraniana poderá, quando muito, estar associado a uma estação do ano e talvez ao início ou ao fim de uma delas, mas nesta altura do campeonato só há abstratamente o “D”. Quando sedimentarem as ideias, quando tudo estiver razoavelmente sincronizado, então alguém twitará a data aos soldados.
Eu vejo nesta flexível calendarização militar uma profunda sensatez, além da evidente inteligência tática. Sabemos no que deram algumas precipitações, no que deu Alcácer Quibir, por exemplo. A maturação faz parte da natureza, os frutos amadurecem e, do ponto de vista ontogenético, o homem também passa por transformações físicas e psicológicas como se amadurecesse. Tudo tem o seu “ponto” e o dia, a hora e o minuto (D, H, M) para uma iniciativa guerreira em larga escala depende do culminar de vários fatores e não se determina com muita antecedência.
No 6 de junho de 1944, o tempo que fazia no Canal da Mancha não era o melhor, mas aí o fator surpresa sobrepôs-se. Apesar da prudência em esperar pela melhor altura para atacar, as batalhas e as guerras não se ganham só com sensatez e maturidade. É claro.
Hoje comemora-se o início do fim da Segunda Guerra Mundial, o dia em que centenas de milhar de soldados desembarcaram nas praias da Normandia. Foi tão importante a data que quase ganhou estatuto de feriado mundial. Quando falamos nesse Dia D era como se não houvesse outro, porém, todos os 365 dias são dias D. Um bebé cresce e amadurece durante a gestação preparando o seu nascimento, o tal dia que, abstratamente, os militares americanos chamariam de D. Todos os dias o milagre da vida acontece. Para os que nasceram hoje, parabéns pelo vosso Dia D.
N.R. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações da Direção do RMJornal